Cinco da madrugada de um dia com muita neblina.
Uma madrugada daquelas que se pode considerar cheias de nada, porque a neblina envolve o espanto que é próprio do madrugar e deixa de fora os ruídos. Assim a madrugada fica despida. Frágil e deserta, também.
Frio húmido, por causa da neblina e cheio de um vazio pasmado.
Sai de casa com a mala na mão. Pouco pesava. As duas mudas lavadas e conformadas, jaziam no fundo. As peúgas de mãos dadas com as camisas engomadas. As calças aninhadas numa saia que teimava em rodar e, uns sapatos, completamente mudos. Porque ali não havia chão.
Era a mala da minha mãe.
Morrera há muito, muito tempo. No tempo em que o verde era verde. Do tom da erva acabada de colher,
Morrera há tanto tempo… lembro-me agora: foi num dia qualquer. Ainda o Gonzalez não tinha chegado... com o receio próprio da partida, que se avizinha sempre que chegamos.
Morrera em paz e em silêncio, a minha mãe. Acho que morrera também mais ou menos pelas quatro e vinte, ou quase cinco. Se bem que ainda não cinco, de uma outra madrugada. Eram precisamente, dez para as cinco, recordo agora, duas linhas de palavras escritas, depois.
Caminhei...
G. Sand
(Fotografia de Mário Castello)
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