segunda-feira, 29 de novembro de 2010

M.Rostropovich - Haydn Concerto No.1 C Major (1)



Saudades de Rostropovich...

Banco Alimentar. Mais um sucesso!

Mais uma vez o "Banco Alimentar contra a fome" saíu à rua. No primeiro dia bateram-se todos os records: 1,5 toneladas de boa vontade a serem distríbuidas por quem mais necessita.
Fico feliz pelo sucesso desta iniciativa de que dependem tantas e tantas famílias. Fico infeliz por ter que ser assim. Por eles e por nós. Pelos que recebem, tantas vezes envergonhados. E,  pelos que dão, dão e dão. E, não conseguem perceber porque é que não se criam as condições para que não tenha que ser assim.
De qualquer das formas é de louvar esta ideia: uma forma de receber, sobretudo isso, menos envergonhada.
Parabéns à Ana Jonet e aos milhares de voluntários que alimentaram mais uma vez esta ideia.


Numa esquina da minha rua há uma pequena mercearia de bairro.
Uma das poucas que teimam em sobreviver.
Há uns tempos, ao lado dos normais caixotes de frutas e legumes à porta, um outro: com as mesmas frutas e legumes, mas variadas, misturados.Umas maçãs, umas folhas de alface, umas pêras...
Um caixote sem critério, mas igualmente arrumado, quase a passar despercebido no meio de todos os outros.
Não perguntei o óbvio: a fruta um bocadinho "tocada", mas ainda boa para consumo, estava por ali...
Por ali contínua.
Funciona sem ser preciso pedir licença. Sem ser preciso dizer nada. Mas funciona.
Parabéns ao Sr. Manuel!

Foi quase...quase

 Da fresta da janela uma névoa desconcertante.
- Abre aí a janela. Está tempo de neve...
E estava. Estava tempo de neve. Quase, quase, tempo de neve...2º ainda não foi hoje!

domingo, 28 de novembro de 2010

Assuka (parte dois)



Esta semana uma pausa no weekend. Com botas. Destas. Medonhas:)
Faço minhas as palavras do João Afonso, as cercas são aborrecidas. Mais para ele, que o peso e a alguma (pouca) falta de agilidade não ajudam.
As minhas botas correm mais e saltam mais alto!!!;)

poldro

Cresceu!!!

Protesto formal

De todos nós, gente a viver do que a terra dá, contra as cercas e os aramados. Porque já não somos meninos - se fossemos, os nossos pais se encarregariam de trazer ao nosso prato as codornizes e as perdizes e as galinholas... E o protesto seria deles então.
Longe vão, se não deviam ir, os tempos dos campos concentracionários. As redes são para as cabras. Exigimos a liberdade. E os nossos cães, também. Desgraçados, sintam-lhes a angustia de ficar para trás, a sua prece, a sua súplica, na espécie canina sempre em duas patas, jamais de joelhos.
Além do mais tudo isto é perigoso. Principalmente para a economia nacional, porque afasta o turismo. E para as minhas costas, já tão atacadas pelos bicos-de-papagaio.

João Afonso Machado

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Portas de Ródão




Há raposas, lindas. Veados e grifos.
Borboletas de mil cores.
Sardaniscas,
flores
Água, terra e ar.

weekend: Assuka versus sopa

Este é um blogue que fecha ao fim de semana.
Weekend é palavra sagrada. Cheia de maresia ou do cheiro agreste da urze.
Neste tempo com muito frio. Muito verde. Muita lama. Muita terra.
Não há nada que chegue ao cheiro da terra molhada. Aos campos de cultivo alagados. Aos ritmos da natureza, à proximidade com os animais.
Tenho pena das minhas amigas  demasiado citadinas, que não conseguem trocar uns sapatos de salto alto por um par de botas. A quem a lama incomoda. Já para não falar na caça ;). Assunto polémico e a evitar a todo o custo numa sexta feira, eu sei. ( Chegamos ao verão e juro que falo de toiros )
Vou trocar o Assuka, imagine-se. E, a extraordinária experiência, sempre renovada e, sempre reprovada, de comer peixe crú embrulhadinho em arroz empapado. Este é que é o "tal", por um pequeno almoço de ovos mexidos, pão acabado de cozer, salsichas e sopa. O último numa paisagem de cortar a respiração: Portas de Rodão
Um dia eu chego lá...
Até lá, tenham paciência...

George Sand

Nadia Comaneci



O primeiro 10 absoluto da ginástica desportiva feminina. O segredo : Béla Károlyi, um boxeur reformado, que pela primeira vez aliou a  leveza e flexibilidade próprias do treino de uma ginasta, à força. E a força mudou tudo.
A história começou num campeonato, quando uma lesão de uma colega de equipa,  fez chamar ao praticável a jovem suplente. A nota, demorou a sair...ninguém sabia o nome dela. Chamava-se Nádia Comaneci. Não foi ainda suplantada a marca de 7 medalhas de ouro.

O desporto de alta competição tem custos: o esforço provoca lesões, cefaleias, sais que não têm tempo de ser repostos no organismo, sujeito a um esforço diário e esgotante. Mas dá asas.
É única, a sensação de voar em paralelas, do equilíbrio na trave, de uma saída perfeita.
E a resistência de um desportista, essa, acompanha-o para toda a vida.


George Sand

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

José de Almada-Negreiros

Viagem das palavras

  As palavras teem moda. Quando caba a moda para umas começa a moda para outras. As que se vão embora voltam depois. Voltam sempre, e mudadas de cada vez. De cada vez mais viajadas.
  Depois dizem-nos adeus e ainda voltam depois de nos terem dito adeus. Enfim-toda essa tournée maravilhosa que nos põe a cabeça em água até ao dia em que já somos nós quem dá corda ás palavras para ellas estarem a dançar.

José de Almada-Negreiros in "A invençao do dia claro" Lisboa, Olisipo 1921

Knappertsbusch Parsifal 1951 (Wagner)

Rameau, Rondeau des Indes Galantes

2º parte da minha boa acção



Espero que seja do agrado do tal Paulo aí do post lá em baixo. A coisa compôe-se...

Os olho da minha avó

A minha avó viu tudo o que haveria de ver, o que podia ser visto ,até à idade de vinte anos.
Um dia sem motivo nenhum fechou um olho e percebeu que do outro se lhe fugiam as cores e a vida, num rodopio esfumado.
Nesse dia deixou de ver para passar a adivinhar.
Como se o olho, sempre morto passasse a duvidar da própria existência ,e de como as coisas se faziam...
 _ Então menino de que cor está o mar?
 _ Azul avó!
 _ Azul...não...
  _este mar não é azul, é tão só cor de marfim. Com a cor do fundo e a cor de cima misturadas. Este mar tem relvas nas bordas e paisagens no meio.
 _ Que cor tem o mar Ana?
_É azul, mãe.
_E tu menino de que cor são os teus olhos?
_São azuis avó!
_Azuis não, que o azul nasceu para ser infeliz, cor de agua salgada...Quero-os da cor das laranjas e do sol!
_Que cor tem os teus olhos menino?
_A cor que a avó quiser...


George Sand

Cores

Deitei-me a pensar em cores.
Fugas em dó menor,
Por dentro de um caleidoscópio.
Saudades e temores a amarelo.
Eram treze da madrugada
Catorze de azul anil.

George. Sand

Esperei por ti

Esperei por ti. Sentei-me debaixo da lua e esperei por ti. Uma névoa cor de nada envolveu-me num abraço frio. Não eram mãos de ternura nem mãos de coisa nenhuma. Apenas o frio rasgado na noite. Uma qualquer noite. Fiquei ali, sentada e esperei por ti. Apenas e só.

George Sand

serviço público (com perfil)


Não conheço o Paulo Ruas, mas fui escuteira. Esta é  minha boa acção de hoje :)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Adolpho Rocha

Desatêrro

Não te posso mentir: o teu desenho é feio:
    E a minha assinatura
       Só ia sem receio
       Para a bonita altura
       Da curva do teu seio


Mas tens o corpo são, moreno e forte
   Com promessas no rosto e na bacia:
        E a sorte
    Quando te fez assim morena e forte
       Lá pensou no que fazia!...

Eu, que sonhei contigo certa noite
  Em que tudo aconteceu,
Digo, sinceramente:
  O teu corpo rijo e quente
E amoldou-se ao meu...

Porém,
  Deus não me fez Poeta e D. João
  para ser pai:
O meu amor é raro e nunca vai
  Confirmar as palavras de ninguém...
  Amo a estéril mulher loira e criança
  Que joga a minha vida e a minha herança...
            ...E tu só podes ser Mãe!...


Adolpho Rocha in "Sinal", nº1, Coimbra, Julho de 1930, imprensa académica
          (directores e editores: Adolpho Rocha e Branquinho da Fonseca)



  

Evgeni Plushenko and Andrea Bocelli

O lago dos Cisnes e o quebra nozes

É oficial: vão-se iniciar as hostilidades da época "Cisnes e quebra nozes".
Todos os anos, mais ou menos por esta altura, ei-los que chegam!
São várias companhias, todas com nomes eslavos e décors mais que suspeitos, que invadem os Coliseus, entre o final dos concertos de verão e o começo dos circos de natal.
Temos houve em que todos os anos me pareciam os mesmos.Mas nem um pio...era o contributo familiar da minha avó para a educação artística das crianças.Sempre seguido do respectivo e opíparo lanche no Chiado.
Depois seguiu-e o inverso, em excursões com leites com chocolate e bolachas ao S. Carlos e ao coliseu com sobrinhas, filha, filhada e demais meninas da família. A tentar o impossível : que alguém se interessasse por dançar em pontas. Infrutífero. Totalmente infrutífero.
Mas eis que surge a revelação: o avô decidiu dar uma mãozinha à época "cisnes e quebra-nozes" , logo à noite. E, desta feita no gelo.
Espero que não sejam as mesmas bailarinas que sapateavam mais alto que a orquestra a aventurar-se nestes novos "territórios". Por elas, evidentemente.
As meninas estão felizes. Mais por causa das toilettes que exige o "evento", creio...
O avô: conformado.
Considero-me a partir de hoje, reformada da época "Cisnes e quebra nozes".
Assim as meninas da família dêm continuidade...para conseguirem um dia apreciar a dança.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Afonso Duarte

Creio que pouca gente o conhece.
Foi talvez um dos maiores poetas portugueses.


Cantar da Solidão

Enchem-se-me os olhos de água:
Mergulho que nunca dá superfícies,
Águas tão fundas, eu sei!

A raiz da árvore da vida,
Só nelas vai mergulhar:
águas tão fundas, eu sei,
Que nem as águas do mar,
Enchem-se-me os olhos de água


Afonso Duarte in Ossadas, Seara Nova, 1947

Escrever ou não escrever: eis a questão

Quem escreve, fá-lo porque sim. Faz parte. Acontece.
Pode ser como o arco-íris que acontece quando acontece. Ou, pode ser uma coisa estruturada, planeada, com começo e fim e, uma história pelo meio.
Admiro quem escreve assim: planeado, estruturado. Fruto de trabalho árduo.
Depois publica-se ou não se publica.
O que se publica nem sempre vale a pena. O que não se publica, deve ser igual : nem sempre valeria a pena.
Gostava de ler os livros do António Lobo Antunes, no tempo em que eram "paridos" quando eram. Agora são paridos todos os anos. Se não me falha a memória, lá para Novembro. Mais ou menos entre o novo livro do Saramago  (essa pressão desapareceu) e o Natal. Não gostei tanto dos últimos. Também não gosto do Paulo Coelho. Mas desse, não gostei nem dos primeiros. Gosto do "Só" do António Nobre. Fica ali, na prateleira, ciranda pela casa, encosta-se à almofada. É umlivro com asas. Consegue voar e tudo. Por isso...
Também gosto do Torga. Gosto muito do Torga. Do cheiro, do ritmo, das palavras em tempo de arco-irís.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

À Paris



Lecture d'extraits de "Chants magnétiques" par Claire Fercak,acompagnée à la guitarre par Billy Corgan.
Librairie Atout - Livre.
Organization Léo Scheer

Madama Butterfly - Vogliatemi bene - Jonas Kaufmann and Angela Gheorghiu

A minha vida...por um disco rigído

O computador "central" da "central"  cá de casa pifado. O wireless, atarantado. Os portáteis espalhados com os cabos a jeito de uma electrocução canina, a tentar recuperar o aparentemente, irrecuperável.  Nunca se sabe o que resta nos escombros de um disco rígido...
 O facebook, esse mordomo da adolescência,  perdido. Irremediavelmente? Esperemos que não!
Seriam todos os "adiccionados"... uma míriade de ratos mikeys e patos donalds, fruto da última moda cibernética, instalados nos quatro cantos do mundo e, dificilmente contactáveis por outro meio.
Se se vão, é para nunca mais mãe...que o e-mail também se perdeu. O Hi 5, eclipsou-se, o Ipod atarantou-se. O orkut...alguém sabe do orkut?! E os primos em S.Paulo, tadinos. Estavam à espera do trabalho de ciências...
Como?
Sim mãe, eles estão "a dar o mesmo" é só fazerem o down lowd lá. A mãe não percebe?...
Há choro e ranger de dentes na cozinha.
A culpa foi de um virús.
Alguém permitíu a intrusão do malandro.
Esgrimem-se argumentos. Procuram-se soluções. Soluça-se.
O Iraniano, girissimo, com noiva e cadillac dourado, aos 15 anos, sumiu-se.
Da Austrália e da China não se houve um único pio e lá, agora, até já é dia...ou será noite? Não interessa mãe, nos E.U.A. também não há ninguém on line. O number one aterrou?!? É só fazer as contas: ele aterrou. Garantidamente.
Aqui é que ninguém aterra há pelo menos meia hora...
A Yuri que faz anos na Moldávia já deve estranhar tanta demora...
_Mas o que é que a mãe está a fazer aí com esse portátil no meio do chão?
O cão apanhou o cabo da câmera, enfiou os auscultadores e saíu a correr. Se morde mais algum fio fica-se...
Corro! Tenho a cabeça a prémio. A vida suspensa...por um disco. Desculpem

Brahms: Symphony No. 4 / Simon Rattle · Berliner Philharmoniker

domingo, 21 de novembro de 2010

Arcangelo Ianelli

Mariana Ianelli

O melhor da poesia brasileira...




Absurda leveza que te faz afundar
E não é a morte.

Cumpres a tua descida calado
(Uma palavra por descuido
seria amputar a verdade).

Náufrago do tempo,
Tuas horas transbordam.
Dentro de lágrimas,
Imensidão, já não choras.

Estrelas e estrelas,
Copulam a sede e o engenho
De que te alimentas
Como nunca te alimentou
O gosto da carne.

Tua face atônita
Se existisse uma face,
Tuas costas nuas,
Se a nudez fosse do corpo.

Um sorvedouro
Onde a paz dos contrários,
Treva alvorada.

Fecundado, flutuas.
É a lei da graça.

in Treva Alvorada", Mariana Ianelli, Illuminuras, S.P, 2010

Vincent (Starry Starry Night) - Don McLean (legendado)

Uma boa noite. Em azul Van Gogh

Filosofia de revista

É suposto lerem-se revistas. Eu tento. Pouco, é certo, mas tento. Hoje peguei na Visão.
Artigo de fundo: o fim do mundo em 2012. Passo!
Mais à frente um suplemento. Qualquer coisa como uma loja no Chiado, japonesa, com marcas que afinal não são marcas. Passo
O mais extraordinário vinha numa "página aborrecida", já aberta ao acaso...não resisto a partilhar aqui, na impossibilidade de partilhar com Kant:

" A gaguez não é a essência da pessoa"

Eduardo Santini

Eu seja ceguinha se hoje não chego a tempo de experimentar pelo menos três (que exagero! Mas assim é que é bom!) sabores na loja nova. Não almoço e livra-te que o estaminé feche antes de eu chegar: és um homem morto! Pelo menos no meu fb. Fechas a bodega dos pralinés que andas a anunciar, antes das sete e, considera-te "falecido" por morte Santini.
Livra-te!
São 540 km por um praliné, uma zuppa (se não houver estás frito!) e o resto tanto faz que já devo estar enjoada.
Para o que me deu...

sábado, 20 de novembro de 2010

A última viagem

Cheguei. Como todos os dias, do lado nascente. Podia ser de um lado qualquer mas era assim, nascente, há vinte e quatro anos.
Do outro lado, a sombra esvoaçante, há mesma hora e no mesmo local. Durante os mesmos 24 anos.
Nunca nos olhámos.
Pelo meio, a neblina do caís, a transparência da maresia.
Sentei-me no topo de uma rocha.
Ela sentou-se no fundo de uma escada, no lado oposto.
Nada partilhávamos a não ser o espaço mudo. Ausentes de nada. Dos dois lados do caís.Uma e outra: figuras esguias. Mãos apertadas num propósito qualquer.
Podia ser que eu adiasse a partida. Podia ser que ela prolongasse a chegada. Podia ser o inverso, ou vive-versa.
Inquietas as mãos apertadas no colo. Rigorosamente durante vinte e dois minutos. Vinte e dois minutos contados a nascente. Vinte e dois minutos contados a poente... por 24 anos.
Levantei-me. Atravessei o caís e cruzei-me com ela. Uma diagonal perfeita. Geométrica.
Amanhã inversa: eu do lado poente, no fundo da escada. Ela, a nascente no princípio de nada. Numa espera alternada, simplesmente.

George Sand

fazer anos

Deixei numa caixa de comentários,ao fim da noite,para um anónimo que podia ser a minha amiga G. Essa não teve tempo de ontem fazer anos. talvez escrecreva sobre isso, sobre o tempo que temos, o tempo que não temos e o facto do dia ter sempre 24 horas.
O meu avô perante esta correria em que tornamos as nossas vidas dizia:
Correm para o caixão e nem sequer percebem...

Hoje corro a pegar nos cães, a calçar umas botas e subir pelas fragas. Talvez consiga ver os esquilos.



Fazer anos é somar sabores.
Reinventar mais vinte e quatro horas,
E adormecer outra vez.

Faz-se anos assim que se nasce.
Esses são de esperança,
De sufoco, de gritos e de lágrimas.
Fazem-se anos devagar, ao ritmo da infância, entre gargalhadas de sol e gomos de tangerinas.
Depois, anos de crescer depressa, para alcançar…outros anos.
Anos de trabalho, de esforço, de construção.
Um dia fazem-se anos sem quase se dar por isso,
São os que passam depressa demais.
Aprende-se a fazer anos com o tempo e com a vida.
Também se aprende com os bolos de chocolate e o cheiro a cera das velas ardidas.
Por isso é que se somam sempre sabores aos anos,
E ritmos diferentes, e cores variadas.
Há anos a cinzento, anos a azul, anos de todas as cores e anos só a preto e branco.
Anos de muita chuva lá fora e risos cá dentro. E outros, só de sol ameno.
Também há anos parados, encruzilhados e esquecidos.
Há aqueles que valeram tanto a pena…
E os outros que não sabemos muito bem para o que serviram.
Há anos em que sorrimos para a fotografia,
E outros em que nos rimos tanto que nos esquecemos das fotografias.
Há anos doces como o mel, outros com pouco sal, outros azedos mesmo.
Há anos em que mandamos nós. Outros, o que nos vai acontecendo
Mas que sejam sempre e sobretudo anos felizes.

George. Sand

carta ao filho


Filho
Acordei sem lágrimas.
Já não resta água
Filho.
Nem sequer esperança.
Só a dobra do teu lençol
Serenamente encostada a um sorriso.
Os dias são planura extensa
Agrilhoada em minutos
Que se multiplicam na tua demora.
Porque não vens?
Abri as portas faz tempo
meu filho
Entrou mar, entrou céu, entrou ar.
Chuva e  um sol encharcado de luz.
Assim, filho.
nas noites despidas de sonhos.

Assim...


George. Sand

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

klaus nomi

Numa rua verde

Quem mora numa rua verde?
Quem mora assim, no espaço deste espectro?
Quem é que debruça sorrisos na sacada esverdeada?
Esgares em verde-água e, lampejos de olhar em verde-nada?
A rua é incondicionalmente verde.
Substancialmente verde
no meio,
justo,
um!
só!




Voluntariado

Em Portugal é uma palavra pouco dita. As pessoas lembram-se, vagamente, nos dias de grandes peditórios. O Banco Alimentar, primorosamente defendido pela Ana Jonet, faz mexer consciências. A liga quando sai à rua também. Afinal a fome é visível nos telejornais e as doenças afectam sempre algum amigo, algum familiar, uma ou outra pessoa que aproveita a sua visibilidade pública para dizer: eu tenho esta ou aquela doença. Mas o voluntariado não é isso.
Ser voluntário não é, ao contrário do que se possa pensar: dar. Ser voluntário é essencialmente receber.
Optar por, não de vez em quando, mas de vez em sempre, receber.
Depois entranha-se e não se consegue viver sem isso.
Hoje, mais do que nunca é preciso voluntários. Muitos sorrisos, especialmente os nossos, que andam cansados, desiludidos, preocupados, a crise...fazia-nos muito bem receber alguma coisa. Não é preciso muito tempo. basta um bocadinho. Não é preciso abraçar grandes causas, nem grandes "dores", pelo menos para os que não estão habituados.
Às vezes as pessoas ficam desapontadas: eu queria trabalhar nesta ou naquela área como voluntário e não me deixam...como em tudo, é preciso começar pelo princípio. Ora procurem aí ao pé de casa. na paróquia da zona. falem com o pároco, falem na junta de freguesia, dêem uma voltinha na net e vão ver o mundo de sorrisos que está à vossa espera.
Quem viveu fora do País, sabe que voluntariado é parte inerente de cidadania em muitos sítios. Como ir ao ginásio ou passear o cão: reserva-se uma tarde, um serão, uma manhã para acumular sorrisos. Porque o mais importante para se ser voluntário é essa ideia: ser-se voluntário é receber . dar é uma consequência tão natural que nem nos chegamos a aperceber dela.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jacques Brel - Jojo

Papagaios de papel

Gosto de papagaios de papel.
Gosto muito.
Gosto das cores, dos formatos, da maneira infantil como olhamos o céu.

Cimeira de Lisboa

Pelo andar da camioneta é desta que os submarinos do Paulo Portas vão entrar em acção.

Palavras

Escrever é pincelar palavras.
Pega-se na palavra desde e acrescenta-se-lhe o tempo de um verde-luz que pode ser "agora" ou "nunca" ou "o tempo breve de um acontecimento". Tudo se passa ao redor de uma paleta.
O escritor é um acontecimento colorido, ou um reconhecimento, se pensarmos naquilo que o impele a escrever.

Dario Fo imita Berlusconi

Efeito Borboleta

José Mário Silva edita no Brasil o seu "Efeito Borboleta". Muito mais por "carolice" dos brasileiros, do que por mérito dos portugueses. Não do José Mário Silva, evidentemente.
Falo de editoras: cegas, surdas e mudas.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

caixas de comentários


Pedem-me para comentar, umas vezes.
Outras não.
Um comentário pode ser uma simples cortesia de quem passa: eu li. Eu estive aqui. Valeu a pena ter escrito isso.
Muitas vezes é uma forma de apoio.Um estímulo.
Outras vezes pode ser mais "profissional" no sentido em que se inventam personagens, se mantêm diálogos, se remete para este ou aquele assunto. Este ou aquele autor. Este ou aquele politico.
Podem-se "segurar" comentadores, voltar atrás,  ir buscá-los  para os apanhar, logo mais adiante.
Pode-se jogar com as horas, os "timmings" certos de cada assunto...

Podem-se fazer enredos em comentários, criar personagens, interagir, "recrutar"  aqueles que sabemos param mais por aqui ou por ali, com nicks "batidos", com estilos identificáveis, mesmo para além das personagens.
Em circunstancias especiais podem criar-se polémicas, remeter para autores, defender marcas, dar visibilidade a este ou àquele "postador".
pode-se mesmo interferir nos próprios estilos de um comentador que interessa para esta ou aquela questão.Dar-lhe carisma, reformulá-lo.Reconvertê-lo mesmo.
Como quem se passeia numa avenida...



terça-feira, 16 de novembro de 2010

Fato literário e Jabuti

Prémio Fato literário na Feira do livro de Porto Alegre para o Escritor Aldyr Garcia Schlee, com o extraordinário "Don Frutos". Depois dos "limites do impossível - Contos gardelianos", prémio mais que merecido do escritor gaúcho.
Parece é que as coisas não correram muito bem no Jabuti deste ano.
Protesto das editoras...o grupo Record, representado pela Bertrand, Record, Civilização brasileira, José Olympio, Best Seller e Versus anuncia que não participa na próxima edição. O autor premiado, Chico Buarque com "Leite Derramado", não comparece na  entrega do prémio...o leite azedou?

Blogs

Adoro blogues!
Há para todos os gostos: os políticos, os de culinária, os poéticos, os de fotografia,os culturais.
A maior parte das pessoas que tem um blogue, não tem realmente muito para dizer, a não ser a ela própria e aos amigos, que caridosamente vão pondo uns comentários em jeito de cartãozinho de visita. Depois no fim do dia, recolhe-se da "salva" vulgo, caixa de comentários e agradece-se, como nos ensinaram. Funciona como as visitas de outrora, mas sem chapéu.
Também há um outro problema. E este sim, muito mais complexo: o que pôr no maldito do blogue?
O estratagema é fácil para quem tem um blogue de culinária ou de arranjos florais: a fotografia do jantar e a rosa que acabou de despontar no canteiro do vizinho.
Os políticos, esses,  limitam-se a ler o jornal e os blogues dos outros políticos.
Nos culturais também não há drama: há sempre um lançamento que espera por si, mais não seja nos blogues das editoras.
O pior mesmo são estes, de autoria própria e sem fim específico. Mas eu já descobri o "estratagema" é ir primeiro ver o que os outros puseram. Hoje é dia das paradas chinesas do you tube. Já passei por vários e vi, pelo menos seis. Sendo que em três, a parada era a mesma e os outros, tiveram o cuidado de mudar os "figurantes". http://actofalhado.blogs.sapo.pt/http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/  31 da armada etc...(ainda não aprendi a fazer links e agora não tenho tempo) A chatice disto é que eu não gosto de paradas chinesas.
Dizem-me que com o tempo arranja-se uma data de temas giros. Também me dizem para não desaparecer como comentadora nos "estaminés" do costume...vamos ver.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dias de Outono azul


 Os dias são azuis. São azuis Picasso ou azuis simplesmente. Podem ser azuis anilados, também. Mas são azuis. Da cor do mar, do céu e dos risos.
Se houvesse uma cor para os risos, teria que ser azul. Uns dias mais brilhante outros menos, mas sempre azul.
- Fala a sério!
Falo sempre. Mas em tons de azul. E com risos.
-Não estejas com brincadeiras!
-Estou sempre  e em tons de azul...
A vida a cores, corre melhor. Tem-se mais tempo para os outros, para nós próprios, para as emoções.
-Nunca levas nada a sério...
Claro que levo. Levo tudo a sério. Todas as nuances de azul, tremendamente a sério.
-Concentra-te numa coisa!
porquê? Se a vida é um caleidoscópio...azul.
- Não vais longe assim!
Nunca quis ir. Quis ficar sempre perto. Do céu, do mar, do vento e da chuva. Dos outros e de muitas coisas que podemos e devemos aprender: a música, a arte, a poesia, as folhas que vão caindo, neste Outono azul.



 

Esqueçam os chineses

" O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, reiterou hoje que o seu país pode adquirir dívida portuguesa, na estratégia de diversificação das aplicações do Fundo Petrolífero, mas advertiu que Portugal tem de avançar com propostas."

A minha única dúvida é se será de avançar, se é de esperar pelas propostas dos aborígenes...:)