terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pela alma abaixo




Nunca olhava para o pulso a  ver as horas. No pulso trazia apenas as linhas demarcadas de lugares alinhavados e, a espaços consentidos.
O tempo, esse recanto de infindável, escorregava-lhe inevitavelmente pela alma abaixo.
Impossível de conter um tal rio de vicissitudes, de alegrias, de escapatórios momentos, vividos às pressas.
Encavalitadas quase por cima de si mesmo, ficavam as voltas e reviravoltas que ainda haveriam de ser. Espreitavam amiúde, por cima do ombro, na esperança de ver no balanço, o momento preciso. Como se existisse um momento preciso…

Segurou-o na dobra do cotovelo, o tempo, assim escorregado. E alma, que  o trazia colado e parecia pairar.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Olhares II


…lembro-me sobretudo dos seus passos. Lentos, fluidos, inaudiveis.
Sem chão.
Passos húmidos, que deslizavam de encontro ao fundo das lagoas.
Não fosse a transparência e o rasto ondulante dos cabelos e, ninguém saberia mais de si.
Viveria sempre assim: eternamente submerso…de uma cidade naufragada.



Fotografia: Pedro Soares de Mello

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Olhares


Poderá a água, planar eternamente, por baixo de cada um dos nossos instantes. Desde que, a tempo, me deixes percorrer sem pressas, uma a uma, todas as traves mestras que te sustêm os passos.


(fotografia de Pedro Soares de Mello )