sábado, 31 de dezembro de 2011

Vamos pegar 2012 - de caras!


Esta foi a imagem que escolhi para o novo ano que hoje começa.
Não pretendo com isso iniciar nenhuma discussão em torno dos prós e contra dos toiros e das toiradas.
Simplesmente deixar uma imagem, que fala por si...e poderá falar por nós, enquanto povo com tenacidade para superar as adversidades e, solidário.
Somos capazes de pegar 2012 de caras...então, vamos lá!

Termina também hoje, o Ano Europeu do Voluntariado.
Inscritos, Portugal tem meio milhão de voluntários. Chega a um milhão se contarmos, com pequenas instituições. A prova de que podemos e sabemos fazer melhor e  fazer diferente. Unidos.
Um Bom ano a todos!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Requiem em plátanos



Nada faria prever que o Outono fosse tão breve...já o fim anunciado:
- Não tenha medo...a morte, segurar-lhe-à, certamente, a esperança. Morre-se sempre, com alguma esperança.

Uma mão fria de coisa nenhuma a segurar-lhe a  tal esperança, quase oca.
Um vazio e depois a luz. Ou depois o vazio. Ou entretanto o silêncio e a luz...E, antes disso o medo. Frio e pálido, a bambolear-lhe a alma. Um medo medonho de coisa alguma. Pelo menos de coisa que se parecesse a nada. Era isso que o assustava....para além da morte.

Com sorte, tudo aquilo em acreditava, bem como o armários desarrumado da memória,  seguiriam incólumes... na travessia. Chocalhados, mas incólumes.

Seria assim, na brevidade dos três meses, que lhe poriam, quando muito, uns pequenos sonhos a chilrear. Ou com sorte, mais uns três, a encostar-lhe as lágrimas ao debruado de azul, dos longos dias de verão.
Não mais do que isso, não. Sabia que não.
Nem mais uma paragem. Nenhuma outra estação.

Atravessou o parque. As mãos ao longo do corpo sem destino. No chão, as folhas já caídas, dos plátanos do seu último Outono..
Agarrou-os à mãos cheias e levou-as para casa.
Durante dias e dias, por todo o Outono, voltou ao parque. Sempre e, só, para as levar.

Milhares de folhas jaziam agora no chão...numa espera silenciosa.
As cores desbotavam dos vermelhos aos ocres, todos os dias.
Até onde, o coração se lembrasse...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Somos a imagem do dia...




Hoje a Península Ibérica foi considerada a imagem do dia, da NASA.
Parece que estamos um bocadinho "constipados" aqui por Lisboa...
Uma pequena enxaqueca no Porto.
O pior, é aquela dor  mais perto da fronteira francesa...aquela bola de luz ali, mais um bocadinho e ficava mesmo por detrás da orelha...logo à noite, que já não somos "a imagem do dia" já deve estar.





( a Imagem é da NASA ...não faço ideia o que me vai acontecer...)

Aos filhos






Pediram-me ressuscitação.
Impuseram-me que renascesse.
Que me desse em corpo e sangue,
E água de vida,
E tempo,
E paz.

Na constância de tudo,
Acordei, cada um dos dois mil anos,
A transformar a existência,
num doce balouçar...
que vos fosse,
exactamente,
quase feliz...


(fotografia: Mário Castello)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Feliz Natal



Com a força, a tenacidade, a e as experiências de vida que esta música e estes três Senhores transmitem, desejo a todos os que por aqui passam um FELIZ NATAL.









quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Valsa de Natal em chão de estrelas e caravelas




Não foi fácil. Todo o mês de Dezembro a intercalar caravelas e estrelas, numa geometria perfeita. E o vento frio, a roubar-lhe o rumo à imaginação.
Os dias só de estrelas  eram simples. Bastava-lhe olhar o céu e, acomodar-lhes os sorrisos trémulos, na calçada.
Mas se era preciso mais uma caravela... o basalto duro, teimava sempre em  navegar para lá dos limites impostos pela branda condescendência do calcário... por mais que se esforçasse.
E o velame, a desfraldar-se, por entre os passos, de quem seguia.

Começou no cimo da Avenida. Era mais fácil descer as costas doridas, a contar os passos, a espaços.
Sabia que teria de estar tudo pronto no final dessa tarde. Uma tarde que lhe pareceu igual às outras, semeada de saltos de todos os tamanhos.
Terminou como sempre, com a sua assinatura de calceteiro. E, preparou-se para partir.
Não  teve  sequer tempo de dobrar a esquina...os poucos que passavam àquela hora, saltitavam já, entre as estrelas que entoavam os primeiros acordes de Strauss, ao simples contacto dos pés. E, as caravelas, embaladas em movimentos contínuos de Brahms.
Abriram-se as janelas e as portadas.
Nunca antes a Calçada Portuguesa se entornara assim, de música...
E foi vê-los dançar pela madrugada, numa valsa de calda de açúcar, de um pequeno sonho...de Natal








domingo, 18 de dezembro de 2011

Carta à minha memória ( I )



O repto foi o de escrever cartas. Com remetente e destinatário. Normalmente as cartas distam espaços. Nestas, a separá-las, estará o tempo.
Pelo que o carteiro...se o houver, não poderá ser, senão, a própria vida.

I
Sapatos de Verniz


 Minha Memória,

Não sei o que aconteceu. Tinha-os guardado no armário, entre o bibe, de todos os dias e, a saia que trouxe da festa...agora desapareceram.
Lembras-te certamente. São os pretos, de verniz.  Não aqueles de sempre, herdados da prima, com a presilha meio rebentada que já decoraram o caminho da escola. Mas, os outros, de botão de festa.  Quase não sabem nada estes sapatos. Acho que nem nunca saíram de casa, a não ser no Natal.
Foram  comprados na "Ratinho", precisamente,  para o Natal. A avó escolheu-os e tentou calçar-mos várias vezes, enquanto os meus pés balouçavam no carrossel que rodava, justamente a meio da loja.
Eu sei que te lembras. Estavas lá, junto à porta, não fosse a avó se esquecer da cor. Ou, os meus pés se lembrarem de crescer, justamente naquele instante.
E agora que não os encontro...
Ainda vou procurar melhor numa cómoda cá de casa, onde se guardam coisas insignificantes, coisas importantes, chapéus e se calhar sapatos de verniz. Pode ser que lá estejam. Pelo menos um...mais não seja um.
O outro,  lembro-me agora,  tinha aquela mania  de  se esconder debaixo da cama...
(olha, fui lá e não está).

Sabes memória, já são muitos anos.  Eu e tu, nesta coisa de perguntar o que não se acha, o que não se lembra.
Eu sei que vives  de recordações. Acho que é exactamente por isso que te escrevo.
Tenho saudades sabes.
Tenho muitas saudades tuas.
Vê se te recordas dos sapatos. De um, ou dos dois, se puderes.
E não te esqueças que nunca preciso de cartas tuas. Basta-me que fiques por aí e que te vás lembrando de mim.
Agora vou selar a carta...de tempo e deita-la num qualquer marco da vida. Vai chegar num instantinho...ou não. Mas isso não é nada importante. O importante é que chegue....a tempo das tuas recordações.
Saudades, mil.

Filipa

Este texto foi escrito originalmente, para o Blogue Cartas aos molhos (palavras aos folhos)




Mais escritas...

Aceitando um amável convite para aquilo que sempre fez parte, naturalmente, da minha vida, as cartas.
As que se escrevem para os outros, para as memórias e na esperança de futuro.

Sendo assim, poderão também encontrar a minha escrita, no blogue
Cartas aos molhos (Palavras aos folhos)

sábado, 17 de dezembro de 2011

Enrola-te no meu abraço



Quase sempre era assim. Adormecia sereno, para acordar depois, entre o breu e a madrugada  no meio de um turbilhão de vozes, que lhe escorriam da almofada para os ouvidos e, lhe alcançavam, sem dó, o meio do coração.
Frases e frases. Ditos que se entrelaçavam debaixo do corpo e lhe roubavam  alguns sorrisos, que se escondiam depois, aos pares, nas dobras do lençol.
Sabia que eram sonhos. Apenas e só sonhos.
Afundava mais  a cabeça na almofada. Repensava as rotinas e tentava adormecer de novo.
Até que um dia, acordou e tinha vírgulas espalhadas. Uma montanha de vírgulas, que tentou sem êxito sacudir.
Puxou o edredon para baixo e ali estava, juntamente com muitas mais vírgulas,  como mancha em papel mata borrão: "enrola-te no meu abraço".
Não havia mais remédio que por a roupa para lavar. As vírgulas às voltas na tombola transparente. A frase sumida em bolhas de detergente, com todos os aditivos.
Cama lavada. O fresco da cama lavada...um sono de sonhos e de todos os ditos.
E, no outro dia, não só no lençol, como no corpo, tatuado, com a caneta de tinta permanente que insistentemente lhe escrevia a vida: "enrola-te, no meu abraço"...
Deixou que a água lhe escorre-se pelo ventre nu e levasse com ela a tinta.
Saiu de casa, apressado,  a apanhar o último autocarro...mas a esquina já tinha engolido as horas. Ficara um única frase, na paragem, vazia...reconheceu-a de imediato pela postura: sentada muito direita e rodeada de vírgulas..."enrola-te no meu abraço!"
Pegou nela e sem mais remédio, levou-a consigo...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Se as Palavras vierem...


Escreverei se as palavras vier...em
Não vêm sempre.
fazem-se normalmente esperar...para depois, chegarem em catadupa
Como se fosse o vento que sopra e nos faz respirar, a  tempo, de uma outra, golfada de vento...


(a fotografia é do google images)









Mariana Ianelli





PIETÀ

Por delicadeza
Devia cada um resolver seu vestígio,
Não deixar o corpo a esmo,
Atravessado na passagem,
Sem desejo, sem enigma.

Mas se me fica o teu corpo
Eu te arrepanho nos braços
Com a maternidade do ofício
E lavo os teus ombros
De quanto pesou sobre eles,
O teu sexo, que a nenhum afago responde,
Lavo os teus pés, o ato mais santo.

Eu te arremato, eu te limpo da vida,
Faço com que desapareças,
Que o teu equívoco me abasteça
Da razão dos humildes.

Fardo ensoalhado, esse,
De amparar o meu próprio destino.

Mariana Ianelli in "Treva Alvorada", Iluminuras, 2010


Mariana Ianelli, um nome que é já uma afirmação, na poesia de lingua portuguesa,  para nós Portugueses, continua a ser um nome pouco conhecido...

Nasceu em são Paulo, em 1979 e conta já com uma vasta obra poética.
Trajetória do antes (1999)
Duas Chagas (2001)
Passagens 2003)
Fazer silêncio (2005) Finalista dos prémios Jabiti 2006 e Bravo! Prime de Cultura 2006
Almádena (2007) Finalista do prémio Jabuti 2008
Treva Alvorada (2010)

Recebeu ainda o premio  Bounge de Literatura na categoria Juventude e foi no ano passado, finalista do Portugal Telecom. 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Revisitado


Não devia nada a absolutamente ninguém. Nem um aceno. Muito menos um cumprimento. Sequer uma conta por pagar.
 Há muito que o carteiro deixara de insistir. A caixa, único invólucro de ligação ao exterior, desmesurava de tanto apelo. Eram mensagens de apresentação, de re-conhecimento, de fatalidades. Um absurdo.
Subindo-se a escada, já sem nenhum degrau e, muito menos necessidade disso, percebia-se um ténue martelar de teclas, algures num qualquer andar.
Agradecia-se a si mesmo pela complacência dos minutos, das horas, dos dias, que lhe possibilitavam continuar a fazer de conta.
Há quase dois anos que deixara  de viver e passara, por isso, a fazer sempre de conta.
Sobrevivia de sorrisos festivos, de abraços, num multifúndio imenso de felicidade. Rei daqui e de todos os mares. A navegar incessantemente. Sem precisar de um único porto.
Até hoje.
Hoje sucumbira enfim, ao seu próprio êxtase.
Levantou-se. Um estranho erguer...mas em definitivo. Desconectou  o cordão umbilical - um cabo de USB de fabrico intrínseco - só com a força do corpo, agora levantado.
Tinha atingido, por fim, o número mágico: amanhã choraria, então. Eram cinco mil amigos, efectivamente...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quem é o Areias?



O Areias é um camelo. Vai concorrer ao melhor camelo, do blogue do Luís Novaes Tito, A Barbearia do Senhor Luís, com a certeza absoluta de que é o melhor camelo do mundo,  pelo simples facto de que ainda não tem carapuça para o Inverno que se avizinha. Assim sendo, quem quiser que lha enfie.
Como tem cabeça de camelo, qualquer uma lhe serve...é que nos dias que corre, o "convencimento" não enche barriga e o Areias não se pode dar ao luxo de armar em esquisito.
Faz estas figuras no vídeo, mas depois "pia" fininho. (isto se os camelos piassem, que também consta que não).
Coitado do Areias!

(tentei tirar uma fotografia de "pose" ao areias, mas ele não se deixou apanhar)

Plantações do meio do sono



É muitas vezes assim. No meio do sono. Alguém, ou alguma coisa, resolve plantar-nos ideias.
São palavras,  na sua maioria desconchavadas, que se propõem sobrevoar as nossas camas.
Se está frio, divertem-se a puxar os lençóis. Acordam as interjeições. Fazem deslizar de dentro da fronha da almofada, lembranças.
Corremos a fechar portas de armários, a cerrar gavetas. A única forma de  sacudir a poeira das ideias e, sobretudo, as malditas das palavras, estremunhadas,  que as acompanham numa música perdida na noite, com risos de acordeon. Quando era suposto estarem a dormir.
Não, não as vou regar. Quando muito deixá-las por aí, feitas sementes. A pensarem se um dia se poderão transformar em flores, de imaginação. Caules de criatividade numa esteira de sol. Nunca de breu
E é tudo, de  dentro do sono.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Europa: dois segundos atrás (antes da próxima cimeira)

Ilhas de Bruma


Sosseguem os olhos. Todos os olhos, lavados, de alma e brandura, nesta imensidão de azul.
Lá, onde o céu se desfez em horizontes, capazes de nos alongar todos os silêncios. E, por toda uma vida.
Podemos ficar. Podemos partir. Podemos acordar em qualquer canto deste mundo...que o espanto que trazemos dentro, será  sempre em voo. Sem outro destino que não o do lonjura.
O Pássaro? O Açor. A planar suavemente por dentro do peito.
Nove voltas redondas, por dentro das brumas.
Nove ilhas semeadas de lembranças. De mãos dadas, para além deste, ou de qualquer outro tempo.
E o mar...uma imensa toalha de luz, rematada a laçadas de espuma.



(a fotografia foi tirada da net)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Colar de Pérolas



Todas os dias esperava por ela,
Com uma pérola em cada mão.
No meio da avenida movimentada,
Via-a sair do escritório e, a medo sussurrava:
Hoje uma é de esperança, menina...a outra de emoção.
Já se ia o vento que lhe levava os passos, no riso trocista
e as pérolas a rolarem no chão...

Na direita a ternura, na esquerda o coração.
Numa mão o desejo, na outra poesia,
Hoje mais uma promessa...
Amanhã a tentação.
Entre os dedos, sempre um beijo
embrulhado em nácar, na palma da sua mão...

Vinha o vento e passava o frio.
O calor dava lugar ao arrepio.
Uma e outra e, mais outra estação.
E as pérolas, aconchegadas, na sua mão.

Um dia desapareceu:
Encontraram-no morto de ternura
abraçado a um  fio de lágrimas...

o colar, foi-lhe entregue no dia seguinte

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Foi..sem mais nem menos

Foi breve. Muito breve o  voo desses 16 pássaros.
O tempo quase absurdo de um ténue suspiro, que não sabe muito bem, ainda, onde pousar, na demanda de tanto e sempre mais azul...
E o teu sorriso a lembrar o desmedido do horizonte por cumprir. Volteado de todos os 16 pássaros, em cada uma das suas dezasseis cores.
Por cima da ausência, do assombro, da quietude desnecessária, agora.
Tão desnecessária, agora.
E nós lá, à espera... num abraço, que se quer em concha, cingido à  tua planura.
Até sempre Henrique.






segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tombo de luz



Tombará a luz. A tempo de uma despedida silenciosa da memória, recortada do horizonte
Depois, não sei qual será o segredo
Se desfeito
vazio
frio



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Estavam todos mortos. Porém...a luz

Não se via vivalma no cais.
O contraste de nada, com o barulho ensurdecedor dos passos idos, e jamais retornados era terrível.
Passaram gaivotas aflitas. Certamente espantadas da ausência de gentes.
Passaram barcos carregados de recordações. Ninguém ao leme.
passaram os medos, a caminho de um lugar longínquo, sobre carris de nevoeiro.
Não passaram as memórias desses passos. Só essas, não passaram...
Estavam então todos mortos. Seguramente. Como se nem sequer houvesse presente. Muito menos futuro. Só os restos das coisas que se tinham feito, espalhadas por aí.
Ao fundo do silêncio, um abraço e um beijo.
Por debaixo da ponte, a viagem. Todas as viagens, em sombras meias trôpegas.
Ninguém em nenhum dos ângulos do horizonte.
Porém...a luz. Num espaço qualquer. Se calhar no simples intervalo da dobradiça das portas fechadas. Por entre as casas desaparecidas. Muito antes, de toda a  morte.