sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Estavam todos mortos. Porém...a luz

Não se via vivalma no cais.
O contraste de nada, com o barulho ensurdecedor dos passos idos, e jamais retornados era terrível.
Passaram gaivotas aflitas. Certamente espantadas da ausência de gentes.
Passaram barcos carregados de recordações. Ninguém ao leme.
passaram os medos, a caminho de um lugar longínquo, sobre carris de nevoeiro.
Não passaram as memórias desses passos. Só essas, não passaram...
Estavam então todos mortos. Seguramente. Como se nem sequer houvesse presente. Muito menos futuro. Só os restos das coisas que se tinham feito, espalhadas por aí.
Ao fundo do silêncio, um abraço e um beijo.
Por debaixo da ponte, a viagem. Todas as viagens, em sombras meias trôpegas.
Ninguém em nenhum dos ângulos do horizonte.
Porém...a luz. Num espaço qualquer. Se calhar no simples intervalo da dobradiça das portas fechadas. Por entre as casas desaparecidas. Muito antes, de toda a  morte.

13 comentários:

  1. Que texto fortíssimo...! Fantástico, parabéns.

    Quanto à foto, era só dares um pouquinho de contraste e seria 5 estrelas. Assim, "só"4 :).

    ResponderEliminar
  2. Hugo de Macedo,

    Obrigada.
    Quanto à foto não sei mesmo tirar boas fotografias. Por mais que me esforce. Consigo melhores resultados em rostos e ao perto.

    ResponderEliminar
  3. Sublinho o comentário anterior. O seu texto é muito forte e belo!:)

    ResponderEliminar
  4. O Tejo e as suas nuance de luz sempre foram motivo de inspiração para escritores e poetas maiores... e pelo que se vê, continua a ser.
    ;)

    ResponderEliminar
  5. 'O contrate de nada'no inverso do oposto. Em luz, um texto sublime. A foto em tons de aromas. Gostei tanto...

    ResponderEliminar
  6. Bartolomeu,

    Obrigada. Aqui a poetisa menor agradece. Mas de facto o Tejo transporta palavras. E transporta-nos às palavras.

    Anamar,

    Seja muito bem aparecida neste humilde cantinho à beira virtual plantado. Luz em tons de aromas, seria contorno de fado...Obrigada

    ResponderEliminar
  7. Será que os Navegadores Portugueses que deram mundos ao Mundo, ao partirem da Torre de Belém - perto desses passeios - terão poéticamente pensado nas saudades que sentiriam do Tejo? Azáfama, barulho de cordame, despedidas e partida são inimigos da reflexão, mas já ao largo na calma do oceano talvez essa luminosa manhã ou uma madrugada no dealbar, lhes pudesse ter feito lembrar a luz do Tejo!

    ResponderEliminar
  8. VMM de Souza,

    Não nos podemos esquecer que muitas dessas partidas não tinham regresso. Ou se o tinham, era muito longínquo. Partia-se sem se saber do regresso. Se calhar esqueciam-se antes, para conseguirem partir.

    ResponderEliminar
  9. Não sei porquê, mas este texto recorda-me uma minha imagem recorrente de ausência humana. Aqui ainda há a vida do Tejo, mas no meu sonho nem a luz gélida é viva. Grato - imagine! - por me fazer recuperar um sonho mudo. E tremendista.

    ResponderEliminar
  10. Paulo A L,

    Por vezes passamos por esses sonhos, eu sei. Às vezes doi. sobretudo assim, despidos de gente. Que fique a beleza do Tejo.
    Obrigada

    ResponderEliminar
  11. Favoritei o teu blog. Apaixonante, nada mais. Um abraço.
    Carla Reverbel de Moura

    ResponderEliminar
  12. Carla Reverbel de Moura,

    Gosto que tenha gostado.
    Seja sempre bem-vinda
    Obrigada

    ResponderEliminar