quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Requiem em plátanos



Nada faria prever que o Outono fosse tão breve...já o fim anunciado:
- Não tenha medo...a morte, segurar-lhe-à, certamente, a esperança. Morre-se sempre, com alguma esperança.

Uma mão fria de coisa nenhuma a segurar-lhe a  tal esperança, quase oca.
Um vazio e depois a luz. Ou depois o vazio. Ou entretanto o silêncio e a luz...E, antes disso o medo. Frio e pálido, a bambolear-lhe a alma. Um medo medonho de coisa alguma. Pelo menos de coisa que se parecesse a nada. Era isso que o assustava....para além da morte.

Com sorte, tudo aquilo em acreditava, bem como o armários desarrumado da memória,  seguiriam incólumes... na travessia. Chocalhados, mas incólumes.

Seria assim, na brevidade dos três meses, que lhe poriam, quando muito, uns pequenos sonhos a chilrear. Ou com sorte, mais uns três, a encostar-lhe as lágrimas ao debruado de azul, dos longos dias de verão.
Não mais do que isso, não. Sabia que não.
Nem mais uma paragem. Nenhuma outra estação.

Atravessou o parque. As mãos ao longo do corpo sem destino. No chão, as folhas já caídas, dos plátanos do seu último Outono..
Agarrou-os à mãos cheias e levou-as para casa.
Durante dias e dias, por todo o Outono, voltou ao parque. Sempre e, só, para as levar.

Milhares de folhas jaziam agora no chão...numa espera silenciosa.
As cores desbotavam dos vermelhos aos ocres, todos os dias.
Até onde, o coração se lembrasse...

17 comentários:

  1. O Outono é uma estação do ano que me agrada particularmente.
    Mais ainda em Macau.
    Baixam a temperatura e a humidade e o clima é muito menos agreste.

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  2. «Agarrou-os à mãos cheias e levou-as para casa.
    Durante dias e dias, por todo o Outono, voltou ao parque. Sempre e, só, para as levar.»

    que bela imagem
    Obrigada

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  3. Pedro Coimbra,

    Não conheço o Outono em Macau...mas um dia, quem sabe.
    Viu o menos agreste do texto...interessante.Lemos com o estado de espirito também, o que é bom.
    Obrigada

    Rita,
    Interessante ver, como os textos e as partes dos textos, tocam diferentemente as pessoas.
    Obrigada

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  4. O Requiem muito bem escolhido para o Outono que se despede. Apesar de só gostar em parte do Outono, é precisamente as folhas e as cores quentes que me ligam a ele, gostei muito do texto. Parabéns!

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  5. Uma muito linda evocação a partir do Outono!
    Que agora passe depressa este Inverno triste para os dias longos finalmente apareçam.

    Tem um grande grande 2012

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  6. O Outono é uma estação que me apetecia que permanecesse.
    São as cores que criam paisagens quase irreais, mas quentes apesar da vida em declínio.Há uma esperança no renascer, talvez seja também isso.

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  7. Ana,

    Obrigada. Uma despedida do Outono e dos Outonos da vida. Em forma de plátanos.

    mfc,
    Obrigada.
    Eu gosto do Inverno Também. E da noite.

    Concha,
    Para mim é assim. Beleza a qutro estações.
    Obrigada

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  8. Obrigada Pedro Coimbra.
    Um bom ano, também para si.

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  9. Um final belo e empolgante, um final que afinal não é final, um final que é espera com cenário a condizer...
    Um bom 2012!

    Beijo :)

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  10. Daniel,

    Um bom 2012 para si também.
    Obrigada

    AC,
    Um final anunciado e "aberto" para todos os finais.
    Obrigada e um bom ano

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  11. Venho deixar os votos de um
    FELIZ ANO NOVO de 2012, repleto de projectos e com os textos belos a que nos habituou!
    :)

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  12. Tocou-me este texto em que se adivinha alguém no fim da vida,um fim já anunciado, procurando encontrar nas coisas simples da vida e nos momentos já vividos, inspiração para o que lhe resta viver.

    Um texto que também convida à reflexão. Reflexão necessária nestes últimos dias de um ano que nos trouxe muitas dores de cabeça, com prenúncios de outras mais fortes que estarão para vir.

    Votos de uma boa passagem de ano e que estejamos todos por aqui, no espaço virtual, para conferir...

    Beijos

    Olinda

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  13. Obrigada Ana.Um bom ano para si também. Peço desculpa estes últimos dias não tem dado para deixar comentários...mas vou passando sempre :)

    Olinda,

    O texto foi escrito rigorosamente nesse espírito. O fim da vida, o fim de um ciclo, o fim de um ano...que deixou muitas folhas espalhadas.
    Estaremos todos aqui, certamente.
    Obrigada.
    Um beijo e um bom ano para si

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  14. belíssimo texto...
    ...e pensar que já a seguir, é quase, quase...Primavera:-))

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  15. Ainda falta um bocadinho. Mas isso é bom....fruir a vida. Para quê acelerá-la?!
    Bj e obrigada

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