domingo, 10 de janeiro de 2021

Sonhos

 



Acordámos assim, os braços submersos, debaixo de um suspiro longo e cremoso. A noite, deslizada que fora em calda de açúcar, cobrira-nos as almas outrora vestidas de verde. Todas as almas outrora vestidas de verde. E as outras, já matizadas pelos primeiros rigores do Outono, num tom amarelado, pálido e indiferente.
Não havia agora, nenhuma sombra de dúvida que restaríamos neste abraço. Os sonhos amortalhados, lado a lado, até ao raiar da Primavera.
Gotas de chuva grossa invadiam os espaços e afogavam qualquer pensamento que tentasse emergir.
Por dentro, os braços submersos evitavam a todo o custo o ar que sempre se esgueira de um suspiro.
Os olhos ainda semicerrados permitiam apenas negas de luz.
Dos sonhos não restava quase nada a não ser o vazio silencioso.
Acordámos assim e,  assim  iremos  permanecer. 


Imagem: "Chopin de George Sand" de Eugène Delacroix