Não foi fácil. Todo o mês de Dezembro a intercalar caravelas e estrelas, numa geometria perfeita. E o vento frio, a roubar-lhe o rumo à imaginação.
Os dias só de estrelas eram simples. Bastava-lhe olhar o céu e, acomodar-lhes os sorrisos trémulos, na calçada.
Mas se era preciso mais uma caravela... o basalto duro, teimava sempre em navegar para lá dos limites impostos pela branda condescendência do calcário... por mais que se esforçasse.
E o velame, a desfraldar-se, por entre os passos, de quem seguia.
Começou no cimo da Avenida. Era mais fácil descer as costas doridas, a contar os passos, a espaços.
Sabia que teria de estar tudo pronto no final dessa tarde. Uma tarde que lhe pareceu igual às outras, semeada de saltos de todos os tamanhos.
Terminou como sempre, com a sua assinatura de calceteiro. E, preparou-se para partir.
Não teve sequer tempo de dobrar a esquina...os poucos que passavam àquela hora, saltitavam já, entre as estrelas que entoavam os primeiros acordes de Strauss, ao simples contacto dos pés. E, as caravelas, embaladas em movimentos contínuos de Brahms.
Abriram-se as janelas e as portadas.
Nunca antes a Calçada Portuguesa se entornara assim, de música...
E foi vê-los dançar pela madrugada, numa valsa de calda de açúcar, de um pequeno sonho...de Natal
A calçada portuguesa inspirou uma valsa...
ResponderEliminarGostei da dança e da inspiração. Bom!
Uma história linda de alguém que trabalha (quase todos nós...) para que os outros se possam divertir!
ResponderEliminarTroquemos-lhes as voltas e ouçamos também Strauss e Brahms...
Paula Crespo,
ResponderEliminaràs vezes passo com os olhos no chão e a tentar adivinhar onde está a assinatura.
Obrigada e Bem-vinda
mfc,
Que este tempo de natal e nesta altura tão complicada para tantos de nós, seja também com alguma música.
Obrigada
Bonita valsa... a convidar-nos a todos para uma dança mágica, de velas desfraldadas, enfrentando intrépidamente, os medos e as dificuldades. Se nos tempos obscuros e tenebrosos de 500, aqueles homens rudes, incultos, não hesitaram ir mar dentro, penetrando no desconhecido, enfrentando adamastores e vencendo-os, porque não, arriscarmos nós, hoje, desbravar e percorrer caminhos novos?!
ResponderEliminarUm Natal Maravilhoso para todos!!!
;)
Bartolomeu,
ResponderEliminarÉ um bocadinho esse espírito que é preciso. E acho que o teríamos, não fosse esta coisa dos "mercados" que parece que dominam tudo e todos. Mas enfim...não naufragaremos certamente e entretanto que se dance.
Obrigada e um feliz Natal
Este seu texto acenava-me desde ontem e eu não podia deixar de vir aqui lê-lo antes de mergulhar no frenesim festivo desta quadra... :)
ResponderEliminarAs caravelas que nos lembram ousadias passadas, a calçada portuguesa que nos convida a procurar as impressões digitais dos que durante horas e horas 'acariciaram' as pedrinhas para os juntarem artisticamente, mau grado as costas doridas.
Para que o conjunto fosse perfeito o toque das suas palavras e esta música maravilhosa...
Um Presente de Natal. Obrigada.
Bj
Olinda
Olinda,
ResponderEliminarEu é que agradeço.
Já estamos todos. Especialmente as todas...nesta contagem decrescente. Mas o tempo sobra para trocar-mos palavras e sosn em jeito de presentes de natal.
(já lá passei)
Obrigada
e Feliz Natal
Um texto pleno de sensibilidade a tentar resgatar as pequenas coisas que são essenciais num puzzle chamado vida.
ResponderEliminarGostei muito.
Um Feliz Natal!
Beijo :)