quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Revisitado


Não devia nada a absolutamente ninguém. Nem um aceno. Muito menos um cumprimento. Sequer uma conta por pagar.
 Há muito que o carteiro deixara de insistir. A caixa, único invólucro de ligação ao exterior, desmesurava de tanto apelo. Eram mensagens de apresentação, de re-conhecimento, de fatalidades. Um absurdo.
Subindo-se a escada, já sem nenhum degrau e, muito menos necessidade disso, percebia-se um ténue martelar de teclas, algures num qualquer andar.
Agradecia-se a si mesmo pela complacência dos minutos, das horas, dos dias, que lhe possibilitavam continuar a fazer de conta.
Há quase dois anos que deixara  de viver e passara, por isso, a fazer sempre de conta.
Sobrevivia de sorrisos festivos, de abraços, num multifúndio imenso de felicidade. Rei daqui e de todos os mares. A navegar incessantemente. Sem precisar de um único porto.
Até hoje.
Hoje sucumbira enfim, ao seu próprio êxtase.
Levantou-se. Um estranho erguer...mas em definitivo. Desconectou  o cordão umbilical - um cabo de USB de fabrico intrínseco - só com a força do corpo, agora levantado.
Tinha atingido, por fim, o número mágico: amanhã choraria, então. Eram cinco mil amigos, efectivamente...

7 comentários:

  1. 5000 amigos, fecha-se a conta do Facebook e o "artista" morre...
    Para ressuscitar numa qualquer página...;)

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  2. Tiago Mouta,

    E num outro andar, se calhar, sem nenhuma escada, também...

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  3. É tempo de criar uma página, e então pode adicionar "amigos" de forma ilimitada. O pior é que espremendo esse número pouca amizade sai...

    Beijoca!

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  4. Pedro Coimbra,
    Obrigada Ouve-se aqui.


    Rafeiro Perfumado,
    Nem pensar!!! Deus me livre de páginas.

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  5. George Sand,
    Parabéns. O seu texto é excelente e a ligação a Pessoa torna-o magistral. :)
    Aplaudo como o Pedro!

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