Desatêrro
Não te posso mentir: o teu desenho é feio:
E a minha assinatura
Só ia sem receio
Para a bonita altura
Da curva do teu seio
Mas tens o corpo são, moreno e forte
Com promessas no rosto e na bacia:
E a sorte
Quando te fez assim morena e forte
Lá pensou no que fazia!...
Eu, que sonhei contigo certa noite
Em que tudo aconteceu,
Digo, sinceramente:
O teu corpo rijo e quente
E amoldou-se ao meu...
Porém,
Deus não me fez Poeta e D. João
para ser pai:
O meu amor é raro e nunca vai
Confirmar as palavras de ninguém...
Amo a estéril mulher loira e criança
Que joga a minha vida e a minha herança...
...E tu só podes ser Mãe!...
Adolpho Rocha in "Sinal", nº1, Coimbra, Julho de 1930, imprensa académica
(directores e editores: Adolpho Rocha e Branquinho da Fonseca)
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