quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Adolpho Rocha

Desatêrro

Não te posso mentir: o teu desenho é feio:
    E a minha assinatura
       Só ia sem receio
       Para a bonita altura
       Da curva do teu seio


Mas tens o corpo são, moreno e forte
   Com promessas no rosto e na bacia:
        E a sorte
    Quando te fez assim morena e forte
       Lá pensou no que fazia!...

Eu, que sonhei contigo certa noite
  Em que tudo aconteceu,
Digo, sinceramente:
  O teu corpo rijo e quente
E amoldou-se ao meu...

Porém,
  Deus não me fez Poeta e D. João
  para ser pai:
O meu amor é raro e nunca vai
  Confirmar as palavras de ninguém...
  Amo a estéril mulher loira e criança
  Que joga a minha vida e a minha herança...
            ...E tu só podes ser Mãe!...


Adolpho Rocha in "Sinal", nº1, Coimbra, Julho de 1930, imprensa académica
          (directores e editores: Adolpho Rocha e Branquinho da Fonseca)



  

Sem comentários:

Enviar um comentário