A televisão foi perdendo o som e a cor...agora é só um manto esverdeado onde projecto pedaços de vida, mais ou menos esquecidos de mim. A televisão é um bocado de espaço...cinquenta centímetros. E, vejo-te a ti Manuela...há tanto tempo que eu não te via...Tens um vestido branco e o cabelo apanhado.
Não me lembro de outro dia em que o teu cabelo rebelde ficasse assim tão bem...danças uma dança de roda, suave e, muito longínqua. Uma dança que me deixa tonto, nesta cadeira de abraços.
Que bonita que tu eras Manuela!...E mesmo agora neste rectângulo entrecruzado de laivos verdes, de quem quase já não vê, com olhos de ver...ainda me pareces tão bonita.
Lembro-me agora: estavas feliz. Muito feliz. Foi numa manhã de Setembro, num tempo já recontado da minha vida, mesmo à esquina do verão. Uma breve e pálida manhã de Setembro, dessas que quase ninguém se lembra por não serem quentes nem ventosas nem dias feriados nem dias diferentes. Era Domingo e estavas tão bonita Manuela...
Entraste apressada na minha vida nessa mesma manhã ...eu sei Manuela o tempo não podia esperar mais. Nem tu, nem o meu vazio...
Estavas tão feliz Manuela...não me esqueço mais do teu cabelo, dos teus passos apressados, da tua dança de vida, do teu sorriso. Da vontade que tinhas de começar por mim e, por ti, nessa manhã, já longe, da minha vida.
Casámos cedo. Uma missa breve de olhares e sorrisos. Disso lembro-me muito bem. O resto da festa, foi-se esfumando devagarinho, no compasso dos amigos esquecidos ou já partidos deste lugar...mas não interessa...lembro-me de te ver feliz Manuela! Talvez porque achasses que um dia me poderias mudar, que um dia o meu tempo fosse também o teu tempo e o meu espaço fosse também o teu lugar. Não foi bem assim, já não sei bem porquê, mas não foi bem assim.
Não sei onde ficaste Manuela feliz, de vestido de roda e sorrisos...já não me lembro. Onde ficaste tu Manuela?
(Fotografia do Fotógrafo Mario Castello)
Filipa
ResponderEliminarQue beleza de texto!
Qauntas vezes nos perdemos ao longo da vida....
Beijinhos e excelente domingo
Lucia
Obrigada Lucia.
ResponderEliminarPerdemo-nos e reencontramo-nos.
Nesta roda rodada,
enfunada de laços,
de risos e espaços,
de lonjuras
e vida.
bj e bom domingo
Sempre há a ilusão de que podemos mudar o outro...mas não podemos.
ResponderEliminarCada caso será um caso Luísa...a natureza humana surpreende sempre.
ResponderEliminarFilipa, dei uma boa olhada no seu blog e achei muito bonito e diversificado. Eu nem vou seguí-lo, vou perseguí-lo (rs...rs).
ResponderEliminarBeijo de bom domingo.
Manoel.
Obrigada e bom domingo também para si
ResponderEliminarFilipa,
ResponderEliminarEste seu belíssimo texto fez-me lembrar um outro de Lobo Antunes: Saudades de Ireneia. Se ainda não leu, leia, por favor.
Beijinho, boa semana.
Paulo
Conheço bem a obra do António Lobo Antunes. Já o li certamente, mas não o tenho presente. Vou tentar repescá-lo.
ResponderEliminarUma boa semana
Num meu outro defunto blogue:
ResponderEliminarhttp://guarda_factos.blogspot.com/2006/03/saudades-de-ireneia_26.html
Obrigada. Vou ler.
ResponderEliminargeorge Sand,
ResponderEliminarTão bonito este texto que produziu. Tantas Manuelas que ficam assim perdidas no tempo.
Parabéns!
É verdade Ana. Obrigada.
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