segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Colecção de espantos





Tinha passado pelos selos, pelas caricas, pelas latas, pelos cachecóis do glorioso...uma casa cheia de recordações,  a lembrar a adrenalina, as gritarias, a exultação, o gosto partilhado, com cada um daqueles objectos que jaziam por ali, acotovelados em silêncios.
Demasiados silêncios...
Um dia saiu à rua e lembrou-se de coleccionar espantos.
Não era difícil. Ouvia-os a cada esquina. Na boca dos vizinhos, na paragem do autocarro, no mercado, ao fundo da rua, onde as peixeiras descongelavam apressadamente a frescura.
Ai sim? Não me diga? Ora essa! quem diria....francamente! Ah... Oh!
Com os espantos, ainda por cima, vinham retalhos de vidas...não eram uma coisa muito completa, ao contrário. Só deliciosamente desvendada... então não me diga que...via-se logo. Ali andava coisa....pois, certezas, certezas não tenho, mas lá que poderia,  lá isso...

Pegou então no saquinho de Viana, com ditos de amor, carinhosamente bordados pela tia e foi-os guardando.
Os espantos, quedavam-se mudos assim que entravam no saco. Mas por muito, muito pouco tempo. Só até chegarem a casa.
Desfeito o laço, o ar enchia-se então de exclamações e ele...ele ria-se, perdidamente!

16 comentários:

  1. Muita giro:-) estou aqui no aerporto de S.Paulo embarcando...um espanto!

    ResponderEliminar
  2. Ora aqui está um. Um espanto de criatividade que não vai para o saquinho bordado: não quero deixar de ouvi-lo! Ah...!

    ResponderEliminar
  3. VMM Souza,
    Obrigada e uma boa viagem para si.

    Paulo A.L.
    Vamos lá ver se as imagens e os quotidianos vão colaborando na criatividade. obrigada.

    ResponderEliminar
  4. Os espantos hoje em dia estão em cada esquina. Bons tempos em que eram algo raro e precioso...

    ResponderEliminar
  5. George Sand,
    Também quero ter um saquinho de espantos porque é delicioso este conceito.
    Um espanto! :)

    ResponderEliminar
  6. CCB,

    Tem razão. Há tantos espantos (e encantos) por aí.

    Mar Arável,
    Obrigada. Viagem de pássaros...peloe menos quendo escrevemos gahamos asas ão é?...

    Ana,

    É só sair por aí. E deixar-se encantar. Bj

    ResponderEliminar
  7. Filipa querida,

    Sempre me encanto aqui. E não me espanto com tanta poesia em suas palavras.
    Um beijinho

    Lucia

    ResponderEliminar
  8. Obrigada Lucia.
    Sempre um estímulo as suas palabras
    Bj

    ResponderEliminar
  9. E eu aqui... sorrindo de espanto ao ler este texto maravilhoso. :))

    ResponderEliminar
  10. Sem espanto; esta exuberante criatividade é-lhe natural.

    Pilar

    ResponderEliminar
  11. Olá, George Sand

    Este seu texto é belíssimo.

    Sabe uma coisa? houve uma altura, não há muito muito tempo, andava eu com um caderninho e os ouvidos aguçados a tentar ouvir e a tomar nota dos 'ditos' no autocarro, no metro, no barco para Cacilhas...)) Realmente anotei coisas bem interessantes, quase histórias de vida...

    Bj

    Olinda

    ResponderEliminar
  12. Olinda,
    Nada como estar atento à vida, para poder escrever.
    Bj

    ResponderEliminar
  13. Quantos "saquinhos" vamos guardando ao longo da vida? E não é que é prazer abri-los anos mais tarde, para nosso espanto?

    beijos
    João

    ResponderEliminar
  14. São efectivamente muitos João.
    Se forem espantosamente bons melhor.
    bj

    ResponderEliminar