Sento-me no vão das escadas a desalinhar palavras. A arrumar palavras. A custurar palavras.
A lógica da arrumação não obedece muito às regras gramaticais. Obedece muito mais à ordem natural das gavetas, nos muitos armários da vida.
A custura é irregular, porque a máquina é antiga e o vão é esconso.
Mas o desalinho compensa: feito de sonhos e de poemas. Deslumbrados pelo vento que passa e, lhes rouba as vírgulas e lhes arranca os pontos, lhes encosta os travessões aos sorrisos. Às poucas exclamações que encontra, lavadas de lágrimas, pede-lhes com jeito, se querem dançar.
Há tango e rumba nos papeis, desse vão de escada. Passos desajeitados, em sílabas, que teimam sempre em rodopiar.
George Sand
Sem comentários:
Enviar um comentário