quinta-feira, 24 de maio de 2012

A tempo, de falar silêncios




Quase nunca há muito tempo para falar silêncios...ou pela demora em perceber isso, ou pela elaboração contínua do pensamento, a trabalhar desde quase sempre,  numa imensa fábrica de palavras.
Senta-te e esquece depressa todas essas palavras .
Fecha a porta do armazém das frases. As que tinhas feitas e as que tinhas por construir.

A noite ecerra-se num imenso fecho éclair de estrelas,  por cima do mar.
As ondas vestem-se a pouco e pouco de negro.
No que resta da areia morna podes enterrar uma a uma todas as coisas ditas. E, as que ficaram , felizmente,  por dizer.
Deixa-te estar assim. Não me apetece nada (re)conhecer-te em lonjuras de pensamento, nem em esquinas mais ou menos elaboradas.  Só na imensa brevidade do instante.

Há instantes no fundo dos teus olhos. Agarrados à tua alma e,  que se  espalham agora pela toalha.
Lá fora o mar respira e surpreende-se.
Ouve-se a respiração das ondas, a tentar  segurar búzios,  entre os intervalos ritmados das rebentações, para conseguir ouvir todos e cada um  dos teus instantes.
Por magia misturaste sem querer,  uma brevidade, no pão com manteiga...
Lá fora o vento embala-te quase tudo o que vais repetindo incessantemente, de sorriso brando.
A janela, vou deixá-la aberta, para se falar melhor...


24 comentários:

  1. Só aprendi os silêncios quando estive sozinho na Berlenga, em Outubro de 1972. A escutá-los e a " falar " com eles...

    Foi há tanto tempo...

    ( que lindo texto, Filipa. )

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    1. É exactamente para onde pretendo ir Fernando Antolin.
      Obrigada.

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  2. E com a janela aberta, todos os silêncios se ouvem.

    Deste lado da janela esboço um sorriso...envolvida pelo seu "silêncios".

    Beijo
    Sónia

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  3. Sónia M,

    Desde que se abra a janela, todos os silêncios se ouvem. E é pelos silêncios que se comunica, também.
    Bj e obrigada

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  4. George Sand,
    Por vezes é bom ouvir o silêncio mas outras é muito difícil atravessá-lo...
    Muito bonito, os meus parabéns!
    Beijinho. :)

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    1. Claro que sim Ana.
      É difícil atravessar silêncios e perceber os outros nos seus silêncios. Mas é aí, que começa, verdadeiramente a comunicação.
      Obrigada
      Bj

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    1. Para deixar respirar palavras e evolver silêncios.
      Obrigada.
      bj

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  6. Gostei muito "da respiração das ondas a tentar segurar búzios,....".
    Sempre o fascínio do mar numa procura urgente de silêncios que me falam sem precisarem de palavras para me segredar o essencial.Quando a comunhão existe é de facto de silêncios que se faz a comunicação.
    Como sempre mais um texto que apetece ler e reler.

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    1. Obrigada Concha.
      O silêncio é uma parte essencial da vida. Só assim se consegue comunicar, verdadeiramente.
      E sempre, o fascínio do mar, mesmo que vestido de negro.(uma descoberta mais recente :) )

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  7. Um monólogo, dividido em diálogo, George!?
    Perfeita introspecção... pudera, junto ao mar, sob o manto das estrelas, não ha quem resista ao adormecimento lânguido e voluptoso das sensações... as palavras perdem o som, as frases recolhem-se, em respeito pela grandiosidade do ser.

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    1. Uma introspecção Bartolomeu.Um monólogo a adivinhar diálogos, daqueles que quase nunca existem. A não ser na espuma, de um desses luares.

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  8. O silêncio escolhido e conquistado de cintura cingida por uma ataraxia também ela conquistada e escolhida longe de imposta, não sempre com o receio de cair num caleidoscópio do qual nunca sairei mas em pequenos momentos grandiosos em substância mantêm a minha sanidade presente em detrimento de latente,

    cumprimentos,
    JD

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    1. É bom escolher e conquistar silêncios james Dillon.
      Difícil é reparti-los.
      Obrigada e Cumprimentos

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    2. Concordo, o silêncio é um dos momentos mais íntimos que temos, daí a dificuldade em partilhá-lo...

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    3. Isa,
      Não é fácil partilhar silêncios.
      Sobretudo se silêncios cheios e silêncios plenos.
      Obrigada

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  9. ainda existem silêncios assim - eloquentes!

    ... e vibrantes. como a respiração do Mar.

    beijo

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  10. Obrigada herético. Muito pouco audíveis, na maioria das vezes...exactamente porque são silêncios.
    Bj

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  11. o silêncio pode ser de ouro...

    beijinhos Filipa

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    1. Pode mesmo Luís! O silêncio, pode mesmo ser de ouro.
      Bj

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  12. Sinto-me bem nos silêncios contemplativos que tanto nos conseguem preencher!

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    1. Também eu mfc. Gosto de escutar silêncios.E, Cada vez mais...

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