Parto depressa. Apesar disso, o tempo escoa - se devagar por
entre cada um dos meus passos. Por causa
do que vivi aqui, presumo. Ou então, por causa do que julguei ter vivido aqui.
Não olho para trás. A mala de mão, pesada, transporta apenas o meu olhar
embaciado.
Não sei quando perdi o resto do meu sorriso, debruçada que vivi tanto tempo, na
balaustrada de um infinito sem nenhum espaço.
Hoje, sem nada, nem sequer o meu sorriso, parto. Muito depressa. Sou apenas
água que estremece e me afoga devagarinho. Muito devagarinho. Uma corrente de
água e a respiração entrecortada pelo vento a anunciar outras paisagens.
Caminharei inteira e lá, onde a travessia se fará passagem, construirei então o
meu lugar.