Espera. Não me entres de supetão. Não me entres…
A porta, tu sabes, está sempre semicerrada, não vá teres que vir, devagarinho, a fazeres de conta que não é nada… Só um instante, uma hora, um espaço pequenino por entre os ponteiros do teu relógio…
O tempo, tu és o tempo eu sei. És todo o tempo, por inteiro. Trazes contigo uma máquina infernal que me tritura os passos, me absorve a lonjura, me desagrega.
Quero urgência por vezes, eu sei disso, mas apenas de porta fechada.
Não te deixo passar. Não forces… Não implores. Eu não te deixo passar
Aqui não tens lugar.
Livra-te de me atravessares a existência nem em passinhos miudinhos.
Detrás do sofá da sala há um relógio de cuco sem asas, sem voz, sem mecanismo.
Tudo para que não te chegues a mim.
Quero acreditar que amanhã, amanhã, será para sempre…