Era de piso assimétrico o terreiro grande da selva.
Por dentro, o espaço cingia-se a um orvalho matizado de negritude entre-cruzado
no lajedo irregular. Ninguém percorria o lugar. Como se a quietude os
mantivesse suspensos da sua própria respiração. Quietos, calados, absortos, sentados,
encostados a essa paragem.
Uma pequena louva- a- deus pousou brevemente nos olhos que se deslizavam por ali,
de uma mulher. Contemplar passou a ser então a sua única tarefa, feita em
batimentos leves e ondulados de duas asas semitransparente.
Em volta, os que ficavam, nem sequer se
aperceberam. Como se nada tivesse acontecido que valesse a pena. E afinal, tratava
se de uma eventualidade única na selva: o bater de asas de um louva- a -deus nos
olhos de uma mulher.
Nunca, nenhum pássaro se tinha aventurado sequer naquelas paragens. Uma selva
de cimentos e aço, de negritude e lajedo não era lugar onde uma ave pousasse.
A selva não tinha constância nenhuma. Hoje podia amanhecer negra e amanhã sem
cor. Raras vezes o amarelo se passeou por ali e de azul não havia um único
traço. Apesar disso, as asas semitransparente do louva- a- deus conseguiram, no
aquoso da íris dos olhos da mulher, pincelar uma esperança. Uma pequena e
minúscula esperança.
A mulher chorou então uma espécie de rio
que correu por ali abaixo e lavou. Lavou os passos quietos dos que permaneciam,
sentados, absortos e sem reparar. Lavou as lajes negras da selva e revelou-lhes
a brancura original. Lavou os traços ténues da imaginação que jazia colada ao chão e, elevou-a ao azul a espreitar no ar.
Imagem: "El hombre controlador del universo" Diego Rivera 1934