sexta-feira, 25 de abril de 2014
E a noite, num flash
Dália, em passo apressado de flor, traçava-me cuidadosamente a eyeliner, o flash: certeiramente. A olho, dizia… por forma a conseguir reter melhor a luminosidade de cada um, dos tantos que me aguardavam, a escassos minutos, no palco.
Ainda a tempo de vestir a alma e abotoar a emoção, despedi-me então, de mim.
O tributo, seria de ora em diante, apenas e só, de todos eles.
Fotografia: Pedro Soares de Mello
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Pudesse eu...ser mulher
Desta vez, o desafio foi diferente. O texto foi feito, sobre a instalação da artista plástica Dulce de Macedo.
Está em exposição na Câmara Municipal de Vizela
Pudesse eu, ser mulher.
Deram-me o espaço e o tempo. E as portas abertas para lugar nenhum.
Deram-me janelas, completamente desertas.
Depois, deram-me as horas. Todas as horas, que eu quisesse, para poder pensar. E um rosto pálido, descolorido, de tanta ausência.
A espaços, cediam-me bocadinhos de vida. Creio que de alguém, não sei.
Eram retalhos coloridos, que eu encaixava, meticulosamente, entre os minutos de todas essas horas. A segundos, por vezes, das recordações.
Como se eu pudesse, ter recordações…
Alegrias limitadas e consentidas, por ora. E, permanentemente vigiadas.
Alguma vez, se assim fosse, eu começaria, lentamente, a construir-me de coisa alguma. De sabor, de calor, de barro, de cor, de acontecimentos… Ah, nesse dia, eu saberia: seria então, mulher!
As minhas janelas teriam vista de horizonte. Prados de mar e, lagos de erva-doce.
As minhas portas cheias de gente.
Um dia…pudesse eu, ser mulher!
Filipa Vera Jardim
(na fotografia acima: a instalação da autoria de Dulce de Macedo)
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