terça-feira, 30 de agosto de 2022

Destino

 



Há Pássaros que levantam voo sempre que perdemos a esperança. Ou será que o fazem porque não sabemos onde deixar o destino?


Fotografia: Ni Francisco

domingo, 31 de julho de 2022

Horizonte

 




Pedem-me que alcance o horizonte por cima de todos os cinco mares.
Como se o horizonte não estivesse no fundo rotativo do infinito.
Como se os cinco mares não se dessem as mãos, em toda a sua lonjura e, a água, não soubesse voar...


Filipa Vera Jardim 

Imagem:  Fotografia de Ni Francisco

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

sábado, 23 de abril de 2022

Asas

 


Asas  tem um peso certo, uma inclinação correcta.
Debruçam- se por cima do vento à procura do horizonte.
Asas são feitas da matéria da alma misturada  com a dos sonhos e  moldada na bigorna da vontade.
 Asas são assim, uma espécie de espelho, complemento da existência de todos aqueles que nasceram para voar.


Imagem:" The Threatened Swan "Jan  Asselijn 1650


terça-feira, 15 de março de 2022

O dia em que a minha janela se emocionou



 

 Antes de ontem o tempo era diferente. Sabia a terra, a sal da terra e tinha gente. Antes de ontem, as horas passavam céleres pela curva perfeita do relógio, sem olharem para trás. Os cabelos das horas voavam a cada minuto, os sorrisos das horas sucediam-se numa cadência ritmada...Antes de ontem. 

Ontem suspendeu-se tudo. Um repente de suspensão dos passos, das necessidades, da urgência de ir e de voltar, do pensamento, ate

é. E o mundo, o mundo reduziu se instantaneamente ao tamanho de um espaço vazio e de um silêncio. Quem olhasse o relógio, ontem, encontrá lo-ia pasmado. Como se nada se passasse, nada acontecesse. E isso foi ontem. 

Depois disso não houve mais tempo, mais espaço, mais gente e eu fiquei aqui. (...)


in " Os dias da Peste" Organização de Teresa Martins Marques e Rosa Maria Fina , PEN Clube Português, Gradiva, Julho de 2021

Imagem: "O triunfo da Morte " Pieter Bruegel 



 

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

A selva

 

Era de piso assimétrico o terreiro grande da selva.
Por dentro, o espaço cingia-se a um orvalho matizado de negritude entre-cruzado no lajedo irregular. Ninguém percorria o lugar. Como se a quietude os mantivesse suspensos da sua própria respiração. Quietos, calados, absortos, sentados, encostados a essa paragem.

Uma pequena louva- a- deus pousou brevemente nos olhos que se deslizavam por ali, de uma mulher. Contemplar passou a ser então a sua única tarefa, feita em batimentos leves e ondulados de duas asas semitransparente.

Em volta,  os que ficavam, nem sequer se aperceberam. Como se nada tivesse acontecido que valesse a pena. E afinal, tratava se de uma eventualidade única na selva: o bater de asas de um louva- a -deus nos olhos de uma mulher.  
Nunca, nenhum pássaro se tinha aventurado sequer naquelas paragens. Uma selva de cimentos e aço, de negritude e lajedo não era lugar onde uma ave pousasse.

A selva não tinha constância nenhuma. Hoje podia amanhecer negra e amanhã sem cor. Raras vezes o amarelo se passeou por ali e de azul não havia um único traço. Apesar disso, as asas semitransparente do  louva- a- deus conseguiram, no aquoso da íris dos olhos da mulher, pincelar uma esperança. Uma pequena e minúscula esperança.
 A mulher chorou então uma espécie de rio que correu por ali abaixo e lavou. Lavou os passos quietos dos que permaneciam, sentados, absortos e sem reparar. Lavou as lajes negras da selva e revelou-lhes a brancura original. Lavou os traços ténues da imaginação que jazia  colada ao chão e, elevou-a  ao azul a espreitar no ar.


Imagem: "El hombre controlador del universo" Diego Rivera 1934


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A torre de Pisa vai cair

 


A torre de Pisa vai cair. 
Num dia qualquer e tombar devagar. 
O tempo da paisagem respira-se agora, antes da queda. 
 Anuncia-se a urgência em cada degrau.
A torre de Pisa vai cair com estrondo e espalhar-se pelo chão, inundar o lugar de pedras e rostos e passos. Todos os abraços e as gentes decalcadas de outras gentes. De tantas gentes permanentemente descalças e nuas e frias a deambular neste lugar.  
A torre de Pisa vai cair 

Imagem: "A torre de Pisa vai cair" de Mario Cesariny, 1978