segunda-feira, 18 de junho de 2018

Colisão




Acordei a pensar que o mundo era finito, hoje. Tudo acabaria, num passe de mágica , ao nascer, ou ao romper da aurora.
Restaria depois disso, o lugar vazio e mais nenhum tempo.
E espaço outrora ocupado por coisas inertes e mais nenhum sonho.
Estiquei -me para fora da janela a ver passar quem ainda passava e, a pensar que daqui a nada ou daqui a tanto,  é indiferente, seria só o fumo dos corpos  e o espaço dos passos a desabitar este lugar.
Como se a vida se tivesse desnorteado de repente e não soubesse muito bem para onde ir.
Estiquei-me mais para fora da janela, os braços nus pendurados no abismo e os olhos  a dançar ao compasso do vento.
 Daqui a nada ou, daqui a tanto, não seria preciso esticar-me para fora da janela.  Haveria nessa altura  um enorme fora, efectivamente. No entanto, nenhum dentro.
Um a um, contei os transeuntes que restavam na rua a passearem como formigas num carreiro e gritei-lhes e lancei-lhes uma corda…


Fotografia : LHC - the large Hadron Collider

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Umbral


Encostei-me ao teu umbral. Mesmo sem saber se a tua existência era agora ampla ou, se a porta da tua vida permanecia como sempre, aberta.
Lembrei-me só, de que havia uma largueza quando se chegava. Uma largueza de escadas, de hall de entrada a cheirar a fruta da época.  Uma largueza da cor da fruta da época, tombada em matizes de maturação nesse teu lugar.
Nunca me imaginei assim, acredita, encostada ao teu umbral.
Ergui os olhos e percebi,  que não havia  chuva nem sangue, nem a cor pálida do teu silêncio. Só um naufrágio amendoado de corpos que ficam, que se deixam ficar e  que não permite tudo.
O travesseiro atravessava-me o pescoço e prendia-me a respiração. Do lado de lá, vi que permanecias.  Permanecias no teu lugar exíguo, com vista inteira para o saguão... (...)