Acordámos assim, os
braços submersos, debaixo de um suspiro longo e cremoso. A noite, deslizada que
fora em calda de açúcar, cobrira-nos as almas outrora vestidas de verde. Todas
as almas outrora vestidas de verde. E as outras, já matizadas pelos primeiros
rigores do Outono, num tom amarelado, pálido e indiferente.
Não havia agora, nenhuma sombra de dúvida que restaríamos neste abraço. Os
sonhos amortalhados, lado a lado, até ao raiar da Primavera.
Gotas de chuva grossa invadiam os espaços e afogavam qualquer pensamento que
tentasse emergir.
Por dentro, os braços submersos evitavam a todo o custo o ar que sempre se
esgueira de um suspiro.
Os olhos ainda semicerrados permitiam apenas negas de luz.
Dos sonhos não restava quase nada a não ser o vazio silencioso.
Acordámos assim e, assim iremos
permanecer.
Imagem: "Chopin de George Sand" de Eugène Delacroix