Não me importava de fazer nascer os bichos-medonhos- pela- noite -fora.
Os bichos- medonhos, os bichos- mais - que -medonhos, todos os bichos, pela noite fora.
Não me importava.
A porta dos bichos permanecia entreaberta toda a noite e, todas as noites. Era pela porta aberta que nasceriam. Uma porta sem dobradiças nem ferrolho.
Para fazer nascer os bichos, começava-se por fechar também todas as janelas. E, deixar que os humores do dia e misturassem com o breu para fazer nascer pensamentos.
Todos os pensamentos eram alma dos bichos.
Para os medonhos era necessário pensamentos de um dia em revolta, de um dia de mar alto e angústia. E sem nenhuma emoção.
Bastava que uma única emoção, entrasse pela porta dos bichos, ao fundo de mim, que já não seria possível fazê-los nascer.
Nos dias de raiva, em que as mentiras tinham andado à solta a gargalhar ao sol, era muito mais fácil fazer bichos medonhos.
Nos outros, às vezes, saíam só os bichos de faz-de-conta…redondinhos e pasmados. Sem vontade de naufragar pelo sonho adentro…
(escultura de Rosa Ramalho)