segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Pietra
(Escultura de José Castro López)
Escutou-me primeiro o silêncio como se a adivinhar as extremidades.
Depois, num voo suave, com os dedos alados presos por um fio de lágrima à palma, levantou o escopro.
Decidira que me partiria durante o tempo necessário. Nem mais um instante, nem menos numa nuvem de pó e quase nada. Apenas o bastante para me descompassar, me insistir, me fazer resvalar por todas as extremidade de encontro ao cerne.
A pedra cederia por fim o âmago. Sabia disso. Sabíamos disso.
Mais tarde ou mais cedo, as pedras cedem…Podem demorar o tempo dos pássaros que voam em círculos, dos objectos latentes que se movem por um único instante, dos membros que se desenham e redesenham incessantemente balouçados.
E se tocam e se balançam.
E se enchem de veias insuspeitas.
E se misturam de carmim, de verde, de cinza…
Um rio de mármore escorrido por mim abaixo e, o escopro a lamber-me as extremidades ainda toscas.
A força do martelo que se levantava à distância precisa de todos os meus receios.
Não havia ali nenhuma urgência de me partir.
Mesmo assim, sucumbiria a cada instante...
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