sábado, 19 de maio de 2012

Às vezes



Hoje, uma proposta diferente: o texto não é meu, é da minha filha
(tem 17 anos )


Às vezes ele olhava para o relógio: sabia perfeitamente a hora, apenas o fazia por hábito. Outras vezes, esquecia-se. Talvez fosse a recorrência da coisa que ele gostava: ou então, não o sabia bem, conscientemente. Outras vezes, olhava profundamente para o chão. Batia com o pé, o esquerdo, repetidamente. Murmurava palavras soltas, sem muito sentido, Talvez até formasse frases; ou pensamentos, eu nunca soube.
Escrevia lentamente, a letra cuidada, nunca rasgando o papel. Esse, entendia-o. Fora sempre o seu melhor amigo, o seu confidente. Sabia-o de cor.
Cansava-se, pousava a caneta. Essa, nunca dormia. Desejava um dia que ela adormecesse. Que não acordasse, não funcionasse, não tivesse o desejo de mais lhe pegar.
Desejava um dia ficar o papel, com a tinta corrida, a caneta ao lado adormecida. Desejava por fim que o papel acordasse do seu sono quase eterno, que falasse com ele, como se de música se tratasse, até que ele mesmo fechasse os olhos,  pousada a cabeça bem junto à caneta e,  adormecesse.

Inês V.  J. Galamba de Oliveira

25 comentários:

  1. Lá diz o ditado: "Quem sai aos seus..."

    A solidão da escrita.

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  2. Que lindo, menina Inês, do princípio ao fim, com tudo o que é preciso.Excelentes companheiros, o papel e a caneta, e essa veia poética que lhe fica tão bem. :)

    Beijinhos

    Olinda

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  3. Inês,
    Parabéns, gostei do seu texto. Se por vezes o papel falasse connosco seria uma alegria! :)
    Beijinho para a mãe e filha.

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  4. bonito texto, Inês... apesar da melancolia.

    beijinhos para a mãe e para a filhota

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  5. "quem sai aos seus, não degenera..."

    gostei do texto.

    beijo

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    1. Obrigada em nome da mina filha. Ela depois lê todos os comentários, ma está em exames esta semana toda...
      Bj

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  6. Uma prova de que o talento se pode herdar!
    Uma boa forma de descrever a companhia que a escrita é!

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    1. Talento não diria Isa. Muita gente tem a escrita por companhia. Mas a família é de escrita, sim. Obrigada.

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  7. Excelente!!!
    A prova de que "quem sai aos seus...."
    Bjs às duas e votos de boa semana

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    1. Obrigada Pedro e uma boa semana por aí nos Orientes :)
      Bj

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  8. Afinal os jovens ainda sabem escrever e dizer o que está para lá das palavras.

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    1. como em todas as gerações, os jovens escrevem, toam , pintam...

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  9. "Desejava por fim que o papel acordasse"
    Quando só há branco deseja-se isso muitas vezes.
    Se ao menos as canetas já tivessem palavras completas, em vez de letras...
    Gostei muito do texto.

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    1. Obrigada em nome da Inês Luis Novaes Tito.
      O branco acompanha-nos a todos quantos gostamos das palavras e da arte. Inevitável.

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  10. Gostei mesmo muito do que li.É curioso,porque já tenho lido que os pintores retratam as imagens que têm gravadas e muitas vezes eles próprios, a mãe o pai...Aqui ao ler a sua filha F. V. J. consegui vê-la a si retratada no estilo.Parabéns ás duas.

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    1. Cocha, também é natural...e que não haja estilos definidos. São 17 anitos feitos há duas semanas...muita coisa ainda para procurar. Mas eu gosto de a ver procurar.
      Bj e obrigada

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  11. Tal mãe, tal filha. Parabéns à Inês!

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  12. Também gostei ... e já vi que mãe e filha se parecem :)

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  13. Um beijo para a Inês. Tal como a mãe, que só se deixe adormecer pela poesia.

    beijos
    João

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    1. Obrigada João. Será entregue. (pelo menos gostava que ela continuasse a escrever...)
      Beijo

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