Hoje, uma proposta diferente: o texto não é meu, é da minha filha
(tem 17 anos )
Às vezes ele olhava para o relógio: sabia perfeitamente a hora, apenas o fazia por hábito. Outras vezes, esquecia-se. Talvez fosse a recorrência da coisa que ele gostava: ou então, não o sabia bem, conscientemente. Outras vezes, olhava profundamente para o chão. Batia com o pé, o esquerdo, repetidamente. Murmurava palavras soltas, sem muito sentido, Talvez até formasse frases; ou pensamentos, eu nunca soube.
Escrevia lentamente, a letra cuidada, nunca rasgando o papel. Esse, entendia-o. Fora sempre o seu melhor amigo, o seu confidente. Sabia-o de cor.
Cansava-se, pousava a caneta. Essa, nunca dormia. Desejava um dia que ela adormecesse. Que não acordasse, não funcionasse, não tivesse o desejo de mais lhe pegar.
Desejava um dia ficar o papel, com a tinta corrida, a caneta ao lado adormecida. Desejava por fim que o papel acordasse do seu sono quase eterno, que falasse com ele, como se de música se tratasse, até que ele mesmo fechasse os olhos, pousada a cabeça bem junto à caneta e, adormecesse.
Inês V. J. Galamba de Oliveira
Lá diz o ditado: "Quem sai aos seus..."
ResponderEliminarA solidão da escrita.
Obrigada.:)
EliminarQue lindo, menina Inês, do princípio ao fim, com tudo o que é preciso.Excelentes companheiros, o papel e a caneta, e essa veia poética que lhe fica tão bem. :)
ResponderEliminarBeijinhos
Olinda
Obrigada :)
EliminarInês,
ResponderEliminarParabéns, gostei do seu texto. Se por vezes o papel falasse connosco seria uma alegria! :)
Beijinho para a mãe e filha.
Obrigada Ana.
EliminarVou publicando para incentivar a Inês :)
bonito texto, Inês... apesar da melancolia.
ResponderEliminarbeijinhos para a mãe e para a filhota
17 anos Luís...
EliminarObrgada
Bj
"quem sai aos seus, não degenera..."
ResponderEliminargostei do texto.
beijo
Obrigada em nome da mina filha. Ela depois lê todos os comentários, ma está em exames esta semana toda...
EliminarBj
Uma prova de que o talento se pode herdar!
ResponderEliminarUma boa forma de descrever a companhia que a escrita é!
Talento não diria Isa. Muita gente tem a escrita por companhia. Mas a família é de escrita, sim. Obrigada.
EliminarExcelente!!!
ResponderEliminarA prova de que "quem sai aos seus...."
Bjs às duas e votos de boa semana
Obrigada Pedro e uma boa semana por aí nos Orientes :)
EliminarBj
Afinal os jovens ainda sabem escrever e dizer o que está para lá das palavras.
ResponderEliminarcomo em todas as gerações, os jovens escrevem, toam , pintam...
Eliminar"Desejava por fim que o papel acordasse"
ResponderEliminarQuando só há branco deseja-se isso muitas vezes.
Se ao menos as canetas já tivessem palavras completas, em vez de letras...
Gostei muito do texto.
Obrigada em nome da Inês Luis Novaes Tito.
EliminarO branco acompanha-nos a todos quantos gostamos das palavras e da arte. Inevitável.
Gostei mesmo muito do que li.É curioso,porque já tenho lido que os pintores retratam as imagens que têm gravadas e muitas vezes eles próprios, a mãe o pai...Aqui ao ler a sua filha F. V. J. consegui vê-la a si retratada no estilo.Parabéns ás duas.
ResponderEliminarCocha, também é natural...e que não haja estilos definidos. São 17 anitos feitos há duas semanas...muita coisa ainda para procurar. Mas eu gosto de a ver procurar.
EliminarBj e obrigada
Tal mãe, tal filha. Parabéns à Inês!
ResponderEliminarObrigada carlos B. Oliveira.
EliminarTambém gostei ... e já vi que mãe e filha se parecem :)
ResponderEliminarUm beijo para a Inês. Tal como a mãe, que só se deixe adormecer pela poesia.
ResponderEliminarbeijos
João
Obrigada João. Será entregue. (pelo menos gostava que ela continuasse a escrever...)
EliminarBeijo