Fiz toda a vida castelos nas nuvens. Fortalezas de imaginação desenhadas de barriga para cima.
Os dedos no ar em futuros improváveis, que se desmanchavam na primeira revoada. E eram refeitos, como se de uma linha de montagem de felicidade.
Fiz sempre assim, até ao primeiro e único dia em que voei.
Descobri uma forma qualquer de voar, mesmo sem asas.
Um voo curto, acho que de inspiração, só até à beira do primeiro nimbo, a que me agarrei com toda a força.
De cima para baixo, foi mais fácil surpreender o destino. Agarrar os flocos de coisa nenhuma e, prendê-los pelos cabelos de ar, ao chão.
Prendi uma curva apertada, uma estrada, um comboio. Um contorno diáfano de gente.
Prendi também o tempo suficiente a todas as viagens.
Não me lembro de ter conseguido segurar a vida que remoinhava sem parar.
E ainda bem, que não a segurei.
Tudo o que desenhei, de cabeça para baixo também se esfumou.
No fim da curva apertada, a sombra pálida de um comboio. Viagem nunca acabada.
Na berma, em lugar nenhum da estrada, o único contorno de gente, a desfazer-de pleno de vento.
com a devida vénia ao Juan Ramón Jimenez,
ResponderEliminarArriba canta el pájaro
y abajo canta el agua.
(Arriba y abajo,
se me abre el alma).
¡Entre dos melodías,
la columna de plata!
Hoja, pájaro, estrella;
baja flor, raíz, agua.
¡Entre dos conmociones,
la columna de plata!
(¡Y tú, tronco ideal,
entre mi alma y mi alma!)
Mece a la estrella el trino,
la onda a la flor baja.
(Abajo y arriba,
me tiembla el alma)
a vida, o sonho,o vento...nunca os agarraremos de verdade...
Pois não Fernando Antolin. Nem a vida nem os sonhos, nem o vento, se deixam agarrar.
EliminarO poema é lindo obrigada
Lembrei-me do que escreveu o menos conhecido (por cá...) dos irmãos Machado:
ResponderEliminar"...La Vida se aparece como un sueño
en nuestra infancia... Luego despertamos
a verla, y caminamos
el encanto buscándole risueño
que primero soñamos;
... y, como no lo hallamos,
buscándolo seguimos,
hasta que para siempre nos dormimos ..."
não é fácil, a vida. Mesmo quando se tem a oportunidade de a viver de novo, como eu tive ( até agora...). boa noite, Filipa.
Ferando Antolin,
ResponderEliminarNunca é fácil a vida. Importante é que não nos deixemos acomodar em nevoeiros baços e a consigamos dançar em transparências.
Viver de novo, hoje e todos os dias.
Bj
Nada se segura, nem nas mãos, nem com as mãos...até nós tombamos nas curvas apertadas.
ResponderEliminarDo único que discordo é que a viagem acaba sim!
E aí tudo se esfuma...
Gostei muito, como sempre :)
Beijo
Sónia
(o meu blog entrou em pausa, mas sigo por aqui...)
Sónia,
EliminarTombamos mas voltamos a levantar-nos.
Também tenho pena que esta viagem tenha terminado assim. Mas quem sabe, não há espaço, para surpreender o destino, na próxima nuvem.
Obrigada.
Fico à espera que o blog volte ao "activo" :)
Bj
Quando desenhamos castelos sejam direitos ou invertidos o resultado é sempre esse, esfumam-se.
ResponderEliminarGostei muito, beijinho.
É verdade, mas enquanto duram são soberbos.
EliminarUm beijinho Ana :)
Procura?
ResponderEliminarOu liberdade?
Um abraço
A liberdade, sempre, na curva de cada palavra.
EliminarObrigada Isabel.
Bj
Em cada acordar desenrola-se uma nova epopeia, mesmo se embalados por rotinas repetidas incontáveis vezes a surpresa subsiste a cada esquina pela mera tónica de o vento hoje nos empurrar para norte em detrimento do sul habitual, cada dia, cada passo é uma aventura embora tudo que nos rodeia nesta metafísica aparente ser igual ao ontem e anteontem, tombamos e acaba mas não é o fim da saga, esperam-nos campos verdejantes infinitos em outros planaltos, em outras realidades em outras vidas ou alguém acredita que a mente humana em toda a sua vastidão sucumbe pelo mero fim de um invólucro?, não, não pode, enquanto a imaginação continuar a desbravar o caminho do progresso o único abraço que recebo é o do eterno,
ResponderEliminarcumprimentos.
Acordamos surpreendentemente. E redescobrimo-nos a cada pequeno passo,em todo o tempo que nos transporta.
EliminarSerá sempre o sonho, o ponto de partida. Será sempre o mesmo sonho, no lugar da chegada, qualquer que ela seja, em termos de uma paleta infinita...no abraço do eterno.
Obrigada James Dillon
Cumprimentos
Em cada acordar encontramos uma aventura em potencial, mesmo que convictos da certeza do igual depois de os mesmos passos ressoarem na calçada centenas de vezes numa aparente rotina cinzenta, a verdade é que subsiste sempre algo diferente, o vento hoje sopra mais quente e do sul em detrimento do habitual norte, e no fim não tombamos para ficarmos a apodrecer para um fim inexorável e absoluto, aguardam-nos outros sítios pejados de campos verdejantes infinitos, outros universos, outras realidades, enquanto a imaginação continuar na vanguarda do progresso o nosso fim nunca estará interligado com o fim do nosso invólucro, a nossa representação física nesta metafísica não é mais que isso uma representação, nós somos muito mais, imaginamos muito mais que um mero ciclo curto caracterizado com um fado tão finito.
ResponderEliminarCumprimentos.
Quantos serão os passos que nos cabe dar?
EliminarE os abraços,
E o tempo de respirar?
Quantas serão as curvas que podemos abarcar?
Quanto temos de silêncio?
Quanto de lágrimas para chorar?
Em quanto tempo traçaremos o fado,
Que nos cabe a nós traçar...
Obrigada mais uma vez James Dillon
Cumprimentos
A palavra
ResponderEliminarUma forma única de voar
E a tua singularidade
Bjo.
Obrigada Filipe Campos Melo,
EliminarQue a palavra nós vá transportando de um e outro lugar.
Bj
Sonhos e imaginação... essenciais à vida.
ResponderEliminarSonhos e imaginação, como parte da própria vida. A construir e a reinventar.
EliminarObrigada Luisa
Bj
Apesar do que se esfumou...invejo esse voo... :)
ResponderEliminarEsfuma-se hoje. Retempera-se amanhã.
EliminarObrigada Isa
Bj
Bem atrasada por motivos vários.
ResponderEliminarSerá possível viver sem sonhos?Nas encruzilhadas da vida, eles amenizam as quedas.Cada dia um novo sonho,o desfazer de uns, dando lugar a outros.Em cada sonho uma esperança e essa sim é a luz que ilumina todas as veredas,mesmo se é só ilusão.
Bj na certeza de que se algumas nuvens ensombraram o dia,fica no entanto a certeza da entrega em tudo o que a vida vai trazendo e isso dá um brilho especial ao olhar.
Concha,
EliminarNão e vive sem sonhos, como não e vive sem encruzilhadas e sem escolhas...
haja entrega de vida e de olhar.
Bj e obrigada
Lindo, lindo o que se passou aqui.
ResponderEliminarO seu texto inigualável, consegue dizer coisas, desenhar contornos de vida, dos sonhos, da desesperança ou esperança, ilusão, desilusão, de uma forma que é só sua.
Os comentários e as respostas aos comentários - excelentes momentos :)
Bj
Olinda
Olinda.
EliminarOs comentários são a forma como as pessoas vão lendo estes textos que se fazem abertos a muitas leituras.
Quase tão saborosos como os textos em si.
Muitas vezes, são leituras surpreendentes. Isso é muito gratificante.
Bj e obrigada
As papoilas
ResponderEliminarque são as minhas flores preferidas
não sabem escrever assim
mas voam aparentemente frágeis
sem apeadeiros
As papoilas escrevem muito bem. escrevem em coração de flor, largado ao vento. Tomara eu, escrever como ss papoilas
EliminarObrigada