quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sem janelas nem destinos



Limitei-me a contar os carris, que são sempre dois e, transportam o olhar para o horizonte, mais ou menos dilatado. Mesmo assim, reconheço, que por vezes me desconcentrei desse cenário, agora sem rumo, para adivinhar nos rectângulos metálicos das janelas, desfeitos do quadrado original por pedaços retorcidos, rostos pasmados que nunca devem te existido. Ou a terem existido, existiram unicamente vislumbrados. Bocados de olhos, misturados com pestanas ensonadas, ombros descaídos e mãos pousadas em colos sem história.
Será?
Pus-me a pensar se os colos teriam histórias e, se as mãos as segurariam, ou se deixariam escorregar por entre os carris. Não poderia nunca saber… não iria embarcar.
Sendo assim, sentei-me no único banco disponível da gare. O único em que sempre me sentava. E deixei-me ficar até ver outra vez o horizonte, já sem nada, sem janelas, sem destinos.



(A fotografia é do fotógrafo Mário Castello)


2 comentários:

  1. Muito boa escrita tanto em prosa como na poesia profunda e cheia de significado e sentimento.
    Refinado sentido da realidade e de humor. Criteriosa escolha musical e fotografia de qualidade. Sem dúvida um dos meus blogs de referência a partir de agora.

    Cumprimts,

    João S.Castro

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  2. Obrigada. Mas as fotografias não são minhas. Ainda não me aventurei por esses meandros.

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