Todos os dias desapareciam paisagens e lugares.
O tempo das recordações esmorecia, com a falta de pouso.
No jardim, mesmo em frente, restava um único banco para acomodar o resto do horizonte.
O vazio, crescia e com ele o silêncio. Descolorido e generoso. Na quietude mansa, das coisas que não se renovam. Do tempo que nem acontece.
Podiam abrir-se as janelas que davam para o mar e não encontrar sequer vestígios de água. Nem os areais, os muros brancos (seriam brancos? ) junto ao cais. Ou um voo de pássaros, adornado, à rota do esquecimento.
Destemperado, rodava agora o mundo. Sem espaço para se perder na curva abraçada de nenhures.
Entre o lado de cá e o lado de lá, um abismo, requisito de sombras, que paulatinamente substituíam sem dó os lugares, e os esvaziavam do acontecido.
Nunca mais se pintaria nada, com as mesmas dores...
Seriam nuances de paletas, quase impossíveis, a sugerir agora, as poucas recordações. E o luar, manchado de ausência.. E as estrelas, despidas de luz...
(a fotografia é do fotógrafo Mário Castello)
Lindo.
ResponderEliminarBeijinho, Lucia
Obrigada Lucia.
ResponderEliminarBeijinho
Deve ser assim o desaparecimento da memória... sem a qual pouco somos!
ResponderEliminarmfc,
ResponderEliminarDesaparecer a memória ou a esperança...terrível.
Obrigada
As sombras são sempre as memórias mais difíceis de perder, assaltam-nos quando tudo parece tranquilo.
ResponderEliminarParabéns pela beleza do texto.
Beijinho. :)
As sombras farão sempre parte da paisagem.
ResponderEliminarObrigada Ana
Beijinho
Um deserto? Um tempo sem cores, sem sons...sem vida? À luz contrapõe-se a sombra, ao som o silêncio; a tese e a antítese.
ResponderEliminarContudo aqui há o vazio e o silêncio.'Descolorido e generoso'.
Este tempo, este silêncio, este vazio não passarão de imagens apreendidas num passado perdido no próprio tempo?
Bj
Olinda
As cores nunca são as mesmas. Nem as sombras.
ResponderEliminarConheço um rio
ResponderEliminarcom uma ponte
de lá para cá
e de cá para lá
e acho bem
quando alguém passa
por sobre as águas
Bjs
A fotografia é bonita, mas a prosa não é inferior.
ResponderEliminarUm abraço,
m
Olinda,
ResponderEliminarPode ser que sim. Que não passe de um tempo perdido...que as minhas palavras descoloriram, para o seu silêncio o pintar. Em branduras de arco-íris...
Bj
CNS,
Serão como quiser que sejam :)
Mar Arável,
Conheço uma ponte
Por cima da minha ousadia.
E um voo
De alcance ainda maior...
:)
Obrigada M,pela visita. Ainda bem que gostou destas palavras escorregadas. É um estímulo.
Um abraço
Ao fixar os olhos no céu azul da foto, acabei por encontrar a cor. Quase pude ver o movimento das nuvens.
ResponderEliminarNo texto acabei por cair no abismo da falta de esperança, na ausência de tudo o que conhecemos ou aprendemos...naquilo em que o mundo se tornou. "Nunca mais se pintaria nada, com as mesmas dores..."
Gostei bastante.
Sónia
Sónia M.
ResponderEliminarGosto que goste.
Volte sempre e traga essa paleta de palavras. Os meus textos estão sempre abertos a pinceladas:)
Gostei muito deste texto, transportou-me para um local melancólico, mas que sinto que pode ser real....
ResponderEliminarIsa Lisboa,
ResponderEliminarOs lugares, ainda que na minha imaginação... e no seu seu espaço, que se deixam construir. Claro que é real!
Obrigada