sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Imagem perdida e galope.


O dia nasceu cinzento, mas a manada exigia desvelo.
Saiu para a lezíria, num trote curto. Pelo caminho o encontro marcado com o rio... e, foi aí que aconteceu. Debruçou-se na margem, reviveu-se, espelhado nas águas. A vida lancetada a escopro, no tracejado intermitente do rosto.
Vacilava, sem duvida, a imagem...mas tão nítida!
Contemplou-se mais uma vez. Uma vida cheia e longa. E a água a limpar passados e avivar memórias...
Subitamente e sem se perceber porquê... a imagem a ir-se...rio abaixo. Perdida...
Tentou ainda, num último esforço, laçá-la. Mas em vão. A imagem seguiu.
Rodopiava agora, em águas revoltas.  Os olhos suplicantes, num esgar de medo.
Lançou-se, sem sequer pensar, num galope, pelas margens do Tejo.
O cavalo de um lado, ofegante. A imagem perdida, num remoinhar sem dó...
Galopou até à foz.  A tempo de a ver mergulhar num caldo de água salobra que lhe dissolveu primeiro a infância, depois a juventude e numa última onda, o dia de ontem.
Voltou para casa e, pela primeira vez, sentiu-se só.


9 comentários:

  1. Imagem que se escapa e, contudo, cheia de medo.O desenvolvimento e o final excelentes.

    Mais uma ideia muito interessante!

    Bj

    Olinda

    ResponderEliminar
  2. A Imagem que se escapa, numa ou noutra fase da vida,a cada um de nós. obrigada Olinda.

    ResponderEliminar
  3. um pouco pessimista...prefiro a costureirinha

    ResponderEliminar
  4. as costureirinhas são deliciosas no seu ar garrido, narizinho empinado, deixando entrever um fino calcanhar:-)

    ResponderEliminar
  5. Pois do que li prefiro tudo!

    (Por fineza, trate-me por Paulo, caso contrário terei de começar a tratá-la pelo seu nome supra no header)

    ResponderEliminar