terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Viagem inventada em sons inexistentes
Limitei-me a contar os carris, que são sempre dois e, transportam o olhar para o horizonte, mais ou menos dilatado. Mesmo assim, reconheço, que por vezes me desconcentrei desse cenário sem rumo, para adivinhar nos rectângulos metálicos das janelas, desfeitos do quadrado original por pedaços retorcidos, rostos quedos, que nunca devem te existido. Ou a terem existido, existiram unicamente vislumbrados.
Bocados de olhos, misturados com pestanas ensonadas, ombros descaídos e mãos pousadas em colos, sem história.
Será?
Pus-me a pensar se os colos teriam histórias e, se as mãos as segurariam ou se as deixariam escorregar por entre os carris. Não poderia nunca saber…a não ser se de repente, as carruagens se enchessem de sons, que são os invólucros das histórias. Sons de lágrimas a rolarem, de gargalhadas desabridas, de murmúrios sussurrantes.
Mas não havia sons. Só se os inventasse.
Não era fácil inventar sons, assim…adaptá-los aos rostos, às pestanas, aos colos e alinhá-los entre tantos vagões.
Por isso, deixei-me ficar a olhar os carris, paralelos até à curva, que não se quer por companheira, sem imaginar o destino.E, muito menos o retorno.
O tempo ficava-se por ali.
E eu deixei-me ficar com ele...
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bom momento.
ResponderEliminarObrigada Saniel
ResponderEliminarEm todos os locais onde há pessoas,gosto de as observar e imaginar que histórias estarão por detrás dos rostos alegres,mas também dos fechados em que dificilmente se consegue ir mais além.Também acontece estar eu particularmente feliz e receber o retorno em sorrisos abertos ou até mesmo surgir o diálogo que termina por vezes com uma despedida simpática.A empatia tem os seus dias!
ResponderEliminarAbraço
Um momento de divagação registado de forma sublime!
ResponderEliminarBj.
Concha,
ResponderEliminarEstão sempre histórias de vida. mesmo que nos seja difícil inventar os sons.
Partidas e chegadas.
Bj
Ana,
Sim, um momento para além do tempo. Obrigada
Bj
Contar os carris até à curva e depois imaginar o caminho infinito...
ResponderEliminarHá coisas que nos tornam absortos e fazem com que o pensamento flua...
ResponderEliminar... de fora, numa estação fora do tempo e do espaço, "O Homem que via Passar os Comboios", em relance breve, calou o vago aceno e murmurou em seu sonho etéreo: "quem sabe se não seria este o combóio da minha espera"...
ResponderEliminarpeço desculpa pela minha "intromissão" em teu belo texto.
beijo
Luisa,
ResponderEliminarContar percursos. E o caminho infinito sim. Obrigada
Mfc,
É verdade. Obrigada
Heretico,
Os meus textos são abertos. Para a intromissão de todas as leituras.São sempre bem vindas
Obrigada