...Modo maxima rerum,
Tot generis natis que potens...
Nunc trahor exul, inops.
(Ovídio, Metamorfoses )
Escrevia sempre assim. Na velocidade vertiginosa de um aparo molhado regularmente no tinteiro.
Como se não houvesse nem espaço entre silêncios, nem tempo sobre palavras.
-Não foi bem isso que eu disse...
-Foi sim, verifique.
Foi preciso. Exacto. Dentro da perfeita medida, da respiração galopante, do meu aparo...e ele respira, em pleno.
Sei que preferiria um piaffer indefinido, mas a tinta, sempre a tinta...a sugar-lhe as citações e a absorve-lhe os pensamentos. Todos os pensamentos.
Não há papel mata borrão que lhe acomode desconcertos, hesitações, lampejos de consciência ou equívocos.
Quando muito, a segurança de uma desfilada mais ou menos ilegível...para a sua memória. Não para a minha percepção.
- E lê-se? desta vez, lê-se?
- E de que lhe valeria, ler assim, lentamente, se lhe adivinha, já, a vertigem...
São razões inexpressivas, que lhe atormentam o destino, eu sei.
Parta da perplexidade. Parta depressa. Sem dar margem a que muitas preposições se lhe atravessem nos movimentos.
Sabe bem...o palco de todas as disputas estará sempre próximo *...
Por mim, bastar-me -à deixar escorregar o tinteiro...não haverá mais reconhecimentos.Qualquer semblante de desejos reprimidos. Nenhum dogmatismo. Nem um, no mar de tinta que se levanta.
Não se represente. Quando muito, ausente-se.
A minha tinta desenhará palavras novas, em todos os conflitos de ideias.
Ora veja...o aparo perdeu já forma...não consente nem a simples experiência de um abraço de escrita. Como se a matéria adormecida, se refizesse, em coisa alguma...
Restam os dedos. Todos os desejos e, o tropel despojado da imaginação...
* O palco de todas as disputas, segundo Kant: a metafísica.
Nada mais bonito que estes aparos que foram excelentemente aproveitados.
ResponderEliminarParabéns!
Bj.
Obrigada Ana.
ResponderEliminarGosto muito dos meus aparos de racionalidade e, da tinta, a libertar sonhos.
Bj
Gosto de usar canetas de aparo. Só não tenho já é papel mata borrão.. Parece que aqui, neste texto, não fez falta ... as palavras sairam perfeitas :)
ResponderEliminarGeorge S:
ResponderEliminarSó uma vez na vida escrevi depressa e, curiosamente, com tinta permanente. Tinha quarenta graus de febre.
Numa espécie de escrita automática, numa escassa meia hora, escrevi um conto policial em francês, passado em Versailles, no reinado de Luís XV. De resto, escrevo os meus livros com um Plano.
Apetecia-me assinar F. Chopin, mas fica para quando esrever sobre Música.
Raúl Mesquita.
Raúl Mesquita,
ResponderEliminarSeja bem vindo.
Escrevo depressa , mas não escrevo livros. Só estas propostas de texto, abertas: palavras em semeadura de colcheias. È essa a música que vai rodopiando por aqui.
Obrigada.
Não é preciso agradecer. É um prazer estar aqui. Agradeço, no entanto, a descoberta do meu "nãoporenquantoobrigado". Deu-me um incentivo a estar lá mais vezes. R.
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