Não se deve morrer assim. Num dia sem destino especial e sobretudo sem razão.Também não sei se num dia feito para a eternidade.
Percebi quando me levantei e não encontrei os teus olhos. Nenhum dos teus olhos. Muito menos a lonjura a que me habituaras, todas as manhãs.
Parava uns segundos, cedo, na beira da cama, a adivinhar, até onde te levaria o olhar....se para lá do muro da cidade, se acima das promessas de chuva. Irrelevante. Chegarias a casa no final do dia, vestida de trajectos. Mais ou menos desordenados. Como todas as mulheres.
Tinha sido assim, sempre.
Hoje pela primeira vez, achei-te morta.
Corri a buscar dois pincéis. E rapidamente, desenhei uma borboleta de asas amarelas.
Com a mão direita fiz quase tudo e pela esquerda prometi-lhe alguma sombra. Para te proteger a retina. Se ela tivesse sobrevivido...
Soprei com força. A borboleta partiu.
Tenho muito medo que nem ela, mesmo que o encontre, reconheça, ainda, o teu olhar.
Se isto não é a morte, quando se morre, afinal?
Magnífico texto, Filipa.
ResponderEliminarAté arrepia !
Mas de uma poesia profunda.
Um beijo.
Obrigada João Menéres, pelo seu olhar.
ResponderEliminarBj
Bonito texto, por alguma razão a angústia tende a inspirar mais que a felicidade...
ResponderEliminarCarregam-se sonhos para lá das lonjuras do horizonte e também percursos de vida que pesam o coração. E o olhar onde é que fica? De que lado da balança? O equilíbrio ditará a sua sobrevivência, ou não...
ResponderEliminarUm dos seus textos mais lindos!
Bj
Olinda
Talvez tenha razão Faroleiro.
ResponderEliminarObrigada Olinda.
ResponderEliminarUm texto escrito sem nenhuma pausa.Exactamente na medida dos horizontes. Com o olhar, para já despido. A balança, ditará ou não a sua sobrevivência.
Um texto muito belo!
ResponderEliminarParabéns!
Bj.
George Sand,
ResponderEliminarQue lindo texto!!
Bjs
Talvez se morra somente, quando se deixa de enviar borboletas... em busca de olhares que se perderam...
ResponderEliminarAna e Pedro Coimbra,
ResponderEliminarObrigada .Gosto que gostem :)
Bartolomeu,
Acho que sim. Morre-se quando se desiste. E sempre que se desiste morre-se mais um bocadinho. Até as borboletas se transformarem em crisálidas...e essas, não se deixam enviar.
Sublime!
ResponderEliminarPilar
Obrigada Pilar
ResponderEliminarMuito bonito, excepcional
ResponderEliminarArrepiante! Profundo!
ResponderEliminarAdorei
Sónia M.e anónimos/a
ResponderEliminarObrigada
Nunca se morre totalmente. Mesmo que profundamente mortos na memória que não deixamos, há sempre uma borboleta que, frágil, faz soar trombetas azuis.
ResponderEliminarTexto de grande sensibilidade...
Paulo A L,
ResponderEliminarFelizmente que a vida é assim: intercalada de sorrisos.Mesmo que no voo frágil de uma borboleta. Ou, sobretudo, se no voo frágil de uma borboleta.
Obrigada
Um dia voltarão as razões para acreditar!
ResponderEliminarPoesia. Deixou-me saudades de estarmos novamente juntos. Quem diria que se quedava poetisa. Comece a pensar no livro que eu já estou pensar na capa!
ResponderEliminarAbraco
Estamos sempre a desnascer
ResponderEliminarmfc,
ResponderEliminarTal como as borboletas, as voltas da vida, nunca são em linha recta
João Amorim,
Poesia sim. E se algum dia houver um projecto será consigo a parte gráfica. É uma honra.Temos que estar juntos ou a sul ou aí, a norte. Grandes amigos o Porto :)
Saudades
Puma,
Desnascer, gostei. Para renascer.