Começou a chorar.
As lágrimas a rolarem a espaços. Primeiro na cadência da tristeza, depois na velocidade absurda do abandono.
-Sr. José não vale a pena. A vida recomenda prudência, nas reservas hídricas...
E as lágrimas que corriam cada vez mais velozes e se juntavam já aos pés da cama, numa poça perdida...
Sem quase se dar conta, o ribeiro, atravessava os corredores, encharcando todos os passos, que passavam aflitos.
Não haveria mais marés baixas. Sabia que não haveria mais marés baixas. Apenas esta última preia mar, tumultuosa, que lhe afogaria todos os sonhos. Um por um. E, de vez.
- O que posso fazer por si?
- Se me chegar o espelho...
Era a vida agora, disforme, na pressa de chegar a lugar algum. Molhada e silenciosa. Desfocada num olhar translúcido, de água e mais água . De todas as nascentes juntas a correr para uma só foz. A derradeira foz.
Com a força que lhe restava, atirou fora o espelho. E, com ele, o triciclo encarnado, a bola, presente do avô. A primeira gravata , o beijo, a descoberta, o riso, o desejo, a viagem tão bem preparada...
Foi o tempo de um raio de sol e uma barragem: serena e firme, de um último abraço...
Este é um texto um pouco dramático...denota alguma tristeza, solidão, sentimentos sombrios? Estarei certo?
ResponderEliminarAnónimo/a,
ResponderEliminarEstá certo, sim.
O texto é sobre a morte. Envolvida em água e, num espelho. Qualquer um deles funciona como reflector...podia também chamar-se "morte, reflectida" por exemplo.
Li a resposta ao seu comentador mas eu prefiro 'Barragem de abraço'. O título que dá aos seus poemas, aos seus textos, funcionam como um chamamento para mim. Já são em si mesmos autêntica poesia ou o âmago da prosa que representam. Depois é o desenvolvimento que nunca desmerece...pelo contrário, acrescenta sempre.Tal como este texto, Barragem de Abraço.
ResponderEliminarBj
Olinda
Olinda,
ResponderEliminarSe me perguntar se escrevo prosa ou poesia, francamente não sei dizer. É exactamente assim que sai.
Os títulos também aparecem. Olho para o conjunto e aparece o título.
Eu também prefiro Barragem de abraço. Até porque foi esse, o título que apareceu...
Bj
Palavras que envolvem numa despedida a contragosto...
ResponderEliminarBeijo :)
AC,
ResponderEliminarTodas as despedidas são a contragosto. Sobretudo esta.
uma despedida em "cheia"...
ResponderEliminarque inuteis são as flores que os vivos dão aos mortos.
beijo
Heretico,
ResponderEliminarEstou de acordo...as flores é um costume que não me diz muito. Talvez um abraço na despedida...
Há um tempo em que tudo se desprende, em que o encanto desaparece, em que a esperança é apenas uma palavra!
ResponderEliminarmfc,
ResponderEliminarPenso que sim mfc...o tempo de acabar.
Obrigada
Texto triste e fez-me lembrar o rio de Blake só que em vez de correr para a descoberta, corre para a foz e perde-se no fundo do mar.
ResponderEliminarBj.
Ana,
ResponderEliminarUm texto sobre o fim. Por isso, a correr para a foz.
Obrigada Bj