sábado, 6 de fevereiro de 2021

Voo

 




Diz-me porquê, diz-me. O tempo não conta,  agora. O espaço esconso deste único lugar aconchega-me a noite, o destempero e a ânsia de partir. Uma imensa ânsia de partir.
Estar aqui significa uma espera insuportável da vida que já não alcanço.
Abro os braços e agarro-me com força à imagem do infinito. Para lá, para lá. Quero ir para lá. Muito para lá, até ao lugar de fora deste espaço onde  o mundo  se refaz em permanência  e por inteiro.
As minhas asas são esteiras paradas, lençóis de linho que alguém fiou sem nenhuma pressa.
Descubro que ainda estás aqui e me seguras agora a leveza dos ombros, me impulsionas a leveza dos ombros.
Larga-me! Deixa-me ir…





Imagem: La Clairvoyance de Rene Magritte

3 comentários:

  1. A ideia de ter asas é sempre um sonho que se vai tentando concretizar em pequenos nadas?Ou será a ilusão de um infinito que não se alcança, mas que perspectiva aquele lugar onde o sonho se concretiza?

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  2. Respostas
    1. Tem que haver. E temos de ser capaz de o alcançar.
      Obrigada

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