Dobrei muito bem o lençol por alturas do queixo. De fora, apenas a minha razão e as tuas dúvidas. Abraçámos -nos como se a noite fosse eterna. Como se o aconchego que nos invadiu fosse capaz de nos fazer esquecer os demónios. Todos eles. Os que chegam de madrugada e sobem pela nespereira do jardim e os outros, os que vivem sempre dentro de nós.
O lençol, por alturas do queixo, lembra agora um mar enrolado ao corpo. Um mar alto de transpiração e sono. Um mar de alento, à espera de uma manhã que nem sequer sabemos se virá.
Não fossem as minhas pernas sargaços e os teus olhos faróis de um qualquer navio e dizia te que podíamos partir. Agora, sem destino nenhum e com uma direcção: para além de nós.
Muito para além de nós…
Imagem: "Night and Sleep" de Evelyn de Morgan 1878
Muito para alem de nós
ResponderEliminaro seu belo poema
Obrigada. Boa Páscoa Mar Arável. (O nome do seu blogue é maravilhoso)
EliminarO navio feito corpo, é ele próprio o destino e a deriva, a direcção e o naufrágio em ilha de areia feita lençol e aconchego selvagem.
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=Lskx995VgS0
Sim é tudo isso.
EliminarObrigada