sábado, 28 de junho de 2014

Sussurros na ombreira da porta



As palavras não entravam pela ombreira larga da porta. Apenas os sussurros chegavam, aos pares, encostados ao desencanto desse dia.
-Hoje, não há nada para dizer!
O tempo, nasceu sereno. De sol, de arrepio, de brancura pincelada a azul. Ou de azul, matizado com laivos de ausência…pouco importa.
 O rio correu para lugar algum, durante o espaço que lhe foi permitido. Até alguém se lembrar de o rebocar, envolto numa espécie de neblina, desencontrada das margens e agrafada à força.
A noite, essa, far-se-á  apenas na espera, como todas as noites.
E os sussurros que se acotovelam cada vez em maior número na soleira, a lembrar outros tempos. Tempos de fazer redemoinhar palavras de um lado para o outro.
-Hoje não há nada para dizer!
 Esvai-se apenas, o que resta deste aparo de existência, no que outrora podia parecer o leito de um rio…sílaba a sílaba.

6 comentários:

  1. ...As palavras não entravam pela ombreira larga da porta. Apenas os sussurros chegavam, aos pares (vindos da janela), encostados ao desencanto desse dia....

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  2. Há sempre uma janela Thomas. O óculo arredondado da fechadura. Ou, quem sabe, uma pequena frincha...basta estar atento.
    Obrigada

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  3. Sem nada para dizer. Ainda assim tanto que foi dito.

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    1. Silêncios e sussurros andam muitas vezes de mãos dadas. E o muito que têm para contar...
      Bj e obrigada Luísa.

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  4. há palavras que nem licença pedem para entrar ...

    belíssimo texto.

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    1. Vão chegando, como quem chega do nada.
      Obrigada herético.

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