quarta-feira, 4 de julho de 2012

Longe a levaria, o rasto de si





Nada nem ninguém faria prever.
Uma mala pousada à pressa, no chão,  de urze,  da frontaria da casa.
Quase tudo, misturado no amarelo da Primavera. Quase tudo o que lhe acontecera. Década por década.
Quinzena por quinzena, à exaustão do instante.
Tinha dobrado bem a vida.
Vincado os dias de azul. E,  trespassado,  de ponta a ponta, com linha encarnada,  os outros. Esses que fora  cinzelando.
Vivemos sempre entre o azul e  o sombreado. Inequivocamente!
Por vezes- muito poucas essas vezes- em breves instantes de um  tempo. Surpreso e suspenso, que nos deixa  coexistir a amarelo.
Numa ou noutra travessia, podemos fazê-lo em  passos largos, de braços alados ao verde. Mas só, numa ou noutra, pequena, travessia.
A mala levava-se consigo, para muito longe.
Lá, onde não haveria nem tempo,  nem vagar,  para o recordar da memória.
Soariam breves, os passo da viagem. nesse destino ingrato. Trespassado na lonjura maior: o  lugar, onde o silêncio se faz de agruras mal passadas,  e a paisagem se  redesenhada, numa vaga pintura, de um imenso, rasto de si...

16 comentários:

  1. Olá, George Sand

    Com os braços alados de verde numa ou noutra travessia já é alguma coisa, mas nunca o todo, a totalidade daquilo que exigimos à vida e que nem sempre alcançamos.E o recordar da memória é tão necessário, é o rasto de nós...

    Belíssimo texto.Gostei muito.

    Bj

    Olinda

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  2. Recordamos a memória, mesmo quando não queremos.
    E sim, a vida é muitas vezes inalcancável, pelo menos, na sua plenitude.
    Obrigada Olinda.
    Bj

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  3. talvez nas matizes das cores, ainda o arco-iris!...

    gosto. muito.

    beijo

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  4. Às vezes é preciso o silêncio para nos revigorarmos, outras porém, é dor. Desejo que a ficção se enfoque no primeiro silêncio.
    Parabéns pela escrita.
    Beijinho.

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    1. Muitas vezes, é dor Ana.
      Ou dor, transformada em força.

      Beijinho

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  5. Por vezes torna-se necessário (ou imperativo) fazer as malas...

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  6. A vida tem sempre várias cores e é talvez a sua alternância que lhe dá sabor.Entre uma e outra cor há por vezes silêncios que doiem muito!

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    1. Doem os silêncios e doem também alguns matizes...é assim.
      Bj e obrigada Concha

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  7. As malas, o nosso destino(se é que há destino?!), acompanham-nos sempre!
    Beijinhos,

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    1. Acho que sim mfc, acho que há pelo menos caminhos.
      E as malas fazem parte de nós.
      Obrigada
      bj

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  8. Muito bonito, como sempre!
    Parabéns pela sensibilidade!

    "o lugar, onde o silêncio se faz de agruras mal passadas"
    Oxalá a sua personagem alcance o lugar onde o silêncio se faz de cumplicidades e de desnecessidade de palavras.
    Abraço
    Lídia Ponti

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    1. Obrigada Lídia Ponti.
      São difíceis, esses lugares de silêncio em desnecessárias palavras. Mas creio, que não são impossíveis.
      Abraço

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