sábado, 20 de agosto de 2011

Rúcula

Rúcula ou mostarda persa em Português corrente e, sem desacordo ortográfico, mas também sem a pompa que a primeira abordagem supõe.
Eu cresci sem rúcula. Uma infelicidade, que mesmo assim não me privou de uma dose de energia a roçar o enervante,  apesar da tendência, para o que nos meus tempos de meninice, se chamava a "espirra canivetes".  Uma maravilha, nos dias que correm, com  ausência de "genes sofredores" a obrigar a dietas.
A rúcula é inofensiva. Ao contrário da hortelã-pimenta, que perdeu a pimenta. Mais assaloiada, presumo. E, passou a hortelã tout court, Sendo que as propriedades de assassinato mantiveram-se absolutamente intactas.
Alguém que ponha uma folha de hortelã nalgum lado e, passa tudo,  a saber ao mesmo: pasta dentífrica.
Com a rúcula não. A rúcula é suave. A rúcula é bonita. É assim uma espécie de salsa de sala. Vai bem com tudo e, sobretudo,  não aborrece. No caso de visitas, sempre oportunas, uma mão cheia dela faz o milagre de transformar uma salada familiar numa coisa melhorzinha.
Funciona  mais ou menos, como o kiwi dos primórdios, com a vantagem de nunca se poder chegar ao exagero....a capacidade estrondosa de  assolar tudo quanto foi sobremesa ao longo de uma década.
Vitaminas, não faço ideia se tem. Mas pelo colorido, imagino que tem com fartura. É a própria imagem da clorofila e da fotossintese de muito má memória. Eu, que tinha quase a certeza do sentido dos ponteiros da respiração da relva...lembrei-me de copiar pela única colega da turma que fez tudo rigorosamente ao contrário: a pressa , os nervos e o teste anulado!

Assim sendo, estavam as condições mais que criadas para me aventurar a uma tosta de rúcula com gambas, queijo e maionese. Aceito: um exagero. Mas mesmo assim,  nada comparável às de cogumelos com bacalhau e natas...
Habituada, por décadas,  à "coisa" em género misto ou a solo, achei que só podia ser extasiante a experiência. E foi.
Não tanto pelo sabor inolvidável da rúcula, como pela"abordagem".
O pão era dos bons: Alentejano. Com côdea, comprimento e largura a não desmerecer as origens...mas a convidar de imediato a por de lado qualquer tentativa de guardanapinho de papel.
Foi , portanto à "espanhola" , de faca, garfo e batom.
O guadanapinho de papel é dos melhores desmaquilhantes que conheço...
O que eu não esperava é que a rúcula fosse tão resistente. Primeiro foi a faca, a fazê la patinar na maionese. Sem respeito nenhum pelo queijo, a esvoaçar esfarelado, nem pela côdea que devia ter uma função de "contenção". Depois, a abordagem do garfo que só me trazia  à memória a Beatriz Costa e a sua aldeia de roupa....desta feita verde rúcula. E por último, a boca: impossível de mastigar, pelo menos naquelas quantidades que eram as "aliatoriamente aglomeradas", sem espaço para grandes escolhas
Ou falava. Ou comia.
Disfarcei como pude e fui falando e acenando...acabei, já a conta vinha a caminho e só tive tempo de correr para a casa de banho, onde o velhinho kitTAP- mais um a entupir a carteira- se revelou em toda a sua pujança!
As invenções têm limites meus caros chefs!

2 comentários:

  1. :-)
    Fiquei a saber o nome português da rúcula - que conheci em Itália muito antes de ela se tornar moda em Portugal.

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  2. Gi: desde que não venha a moda da hortelã...está tudo bem :)

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