Escreve ainda o teu nome na minha mão.
Se um dia a juventude voltasse,
libertava-me do que não faz falta ao luar,
convocava a tua e a minha pele para a luz.
sobre as ervas não lamento estar só.
É das flores o corpo semente água
seiva taça uvas mares apelo
seio rebentação ternura inacabada.
Aquieto-me sedenta, ergo me sôfrega
e espero a água da tua boca, céu
de anis estrelado que me condena
à sede eterna de todos os bálsamos.
Viajamos assim entre palavras, sentimentos e a memória dos espaços bem desenhados na poesia da Lília Tavares
É pictórica esta viagem, um cenário com o mar e o vento como companheiros quase inseparáveis. Lá, num lugar que se faz presença em todas a idades. Parte-se assim mesmo : habitado! Pela figura materna, por um pássaro, por " peixes azuis a desistir de respirar". "Os peixes azuis e acesos dos teus olhos" que nos fazem intercalar as palavras e os lugares, as palavras e o vento, as palavras e as sombras . As palavras
(...)que ainda ressoam no amago do coração.
Fico arrepiada por saber que em breve te vais
confundir com as calçadas, nevoeiros
de onde apetece trazer-te.
Para mim.
É o apelo da natureza que se mistura à memória para nos fazer respirar o momento, por entre as estrofes, a sorrir-se às pessoas, a enlevar-se, a querer que o passado não se vá assim de repente, a querer que o amanhã tenha sempre vontade de surgir
Chega setembro para outonar os sonhos
Ainda achamos cintilações em pequenos gestos
e damos vida a pétalas limpas nas manhãs (...)
É assim esta Casa das Conchas, com espaço para que cheguem, revisitem, para que se encontrem.
Precisam-se de muitos actores, gente que se demore.
(...) Escrevo chuva e demoro -me inteira sob os beirais das casas.
líquida, estonteada (...)
Demoram-se em lugares desertos,
num vale sombrio de árvores soturnas.
Mulheres amputadas, coartadas do desejo.
Não encontram espaço na matriz do prazer.
Beberam o leite escasso e triste das mães
a cobrir de espesso escuro o bater do coração.
Abrem as janelas. Só elas e a noite.
Obrigada Lília por esta viagem através das tuas palavras embrulhadas em azul, como (...) o mar que guardas nos bolsos
Filipa Vera Jardim
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