domingo, 5 de julho de 2020

Vazio com cheiro salgado de horizonte



Aquele vazio era frio, húmido e tinha um cheiro salgado de horizonte.
Ao fundo do vazio uma janela entreaberta lembrava-me que haveria ainda, algures, espaço para uma existência.
Empurrei a única cadeira para o meio do espaço, sentei-me de mansinho, as pernas juntas, os braços pendentes, o ouvido parado e desatei a recordar.
O tempo que me habitou era outro e não tinha amarras. Cada lembrança que chegava fazia-o em cambalhota ou salto mortal e aconchegava-se feliz, no meu colo.
 As gargalhadas fluíam num  tempo qualquer como se nada do que não se passasse ali, naquele lugar,  me pudesse  verdadeiramente afectar.

Imagem: "A cadeira de Gaugin"  de Van Gogh 1888

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