domingo, 14 de julho de 2019
Pudesse eu ser mulher
Deram-me o espaço e o tempo. E, as portas abertas para lugar nenhum.
Deram-me janelas, completamente desertas.
Depois, deram-me as horas, todas as horas que eu quisesse, para poder pensar e um rosto pálido, descolorido, de tanta ausência.
A espaços, cederam -me bocadinhos de vida. Creio que de alguém…Nem eu sei.
Eram retalhos coloridos que encaixava, meticulosamente, entre os minutos de todas essas horas. A segundos, por vezes, das recordações.
Como se eu pudesse ter recordações…
Alegrias limitadas e consentidas por ora e, permanentemente vigiadas.
Alguma vez, se assim fosse, eu começaria lentamente a construir-me de coisa alguma.
De sabor, de calor, de barro, de cor, de acontecimentos… Ah, nesse dia, eu saberia: seria então, mulher!
As minhas janelas teriam vista de horizonte. Seriam janelas abertas para prados de mar e lagos de erva-doce.
As minhas portas cheias de gente.
Um dia…pudesse eu ser mulher!
imagem: mural de rua na cidade de São Paulo, Brasil, da autoria de Nina Pandolfo
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