quinta-feira, 20 de junho de 2019
Vazio
Vazio
Encostei devagar a minha urgência ao vazio. Acomodando o rosto, o resto e essa parte de mim de que mal me lembrava.
O vazio, apesar de tudo, tinha esquinas inundadas de grandes e pequenos espaços. De grandes e pequenos ângulos feitos de intensas oscilações acústicas que nasceram num momento qualquer, num dado instante ou, quem sabe, de um não lugar situado muito para lá da minha imaginação.
À roda do vazio, naturalmente, não havia mais do que apenas eu.
Eu e os meus pequenos ombros, a minha cabeça finita, o corpo que se aquietava quase sem sentido.
O desamparo era visível e a existência quase nula.
Deixei-me ficar pelo tempo todo que se passou. Um conjunto de horas imprecisas, de minutos apressados. Senti, por isso mesmo, o desamparo de que é feito o vazio. O silêncio que o completa , a imensa desventura e o tédio que o acompanham.
Não sei sequer se foi por um único acaso que eu me encostei assim…
Do vazio não retive nenhum produto, nenhuma lembrança, absolutamente nada.
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