domingo, 23 de outubro de 2011

A crise. Desta feita em versão escolar e estrangeira

Este ano a surpresa:
-E os livros filha?
-Os livros estão aí!
-Estão aí como?
-Os livros não são meus mãe. Mas também não é preciso comprar livros nenhuns. Os livros são da escola. São de todos. Eu ponho o meu nome no fim da lista (de muitos nomes diga-se de passagem) e uso. Só não posso escrever nos livros. Mas não faz mal. Eles dão muito papel para tirar apontamentos.
- Bom mas é preciso dicionários...
- Não mãe. Os dicionários estão na sala de aula. São de todos. Também há na biblioteca.
-Sim mas e os consumíveis? Cadernos, dossiers com estrelinhas, com galinhas, com coisinhas...lápis com luzinhas...
-Ai isso? A mãe não se rale. É só uma caneta ou um lápis e já está. Tanto faz. Os dossiers são todos pretos, dos básicos e o papel é reciclado.
-Calculadora???
 Aqui é sempre uma razia: uma coisa xpto, que ainda está dentro da embalagem, já se ouve berrar a plenos pulmões " eu sou o último grito da moda"...
- Pois é mãe...imagine que não deixam a minha calculadora do ano passado...só deixam aquelas muito básicas que se usava no 5º ano...
 Munida de um espírito de mãe galinha em início de ano escolar, repliquei triunfante: sim mas lá para os desenhos geométricos...preciso dos números dos lápis, dos tamanhos das réguas. De vinte? De trinta? De cinquenta,  de 48...dos ângulos dos transferidores, dos enquadramentos dos esquadros e dos dois em um, que não existiam no meu tempo, mas entretanto parece que foram inventados: os arintos. (ao invés de substituírem, somaram! ). Preciso disso tudo para a lista.
-Ó mãe eles querem lá saber dos números e dos comprimentos. Desde que risque e se veja...melhor ainda é se estiver certo. Não há nada para a mãe por na lista.... Além disso, em Inglaterra, estão em crise!
Pois estão...e nós... (se calhar)... também!

7 comentários:

  1. George

    Reflexos da crise sim. Mas fiquei aqui pensando se também não seria maior connsciência ambiental.
    Um abraço

    Lucia

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  2. Esta crise é deveras preocupante a vários niveis.É que os euros fazem falta para o essencial,mas analisando em profundidade vai-se cortar em todo o lado.Se o lado material da vida é importante,passa a deixar de o ser quando nos impedem de crescermos como seres que precisam de se alimentar espíritualmente.Penso que neste emaranhado de cortes a torto e a direito,há que não nos deixarmos enredar e não perdermos de vista o trilho que decidimos percorrer,mesmo que de vez em quando nos obriguem a desvios.

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  3. Lucia,

    Consciência ambiental e bom senso. Que é coisa que aqui em Portugal se perdeu.

    Concha,

    Esta discrição, aplica-se ao que já se passava no liceu francês há vinte anos. Tem razão quando diz que nos precisamos de alimentar espiritualmente. Mas esta questão das listas de material escolar, não reutilizavel e não partilhavel, extensissima é um absurdo. Como absurda é a troca exaustiva de manuais escolares. Um bom negócio para as editoras, sem dúvida, mas um estrangulamento absolutamente desnecessário para as famílias.
    Há que imperar o bom senso, claro

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  4. Parabéns pelo texto criativo.
    É lamentavel os momentos que nos esperam.
    Cortar na riqueza intelectual é no mínimo uma tristeza maior.

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  5. Olá, George Sand

    Este seu texto diz tudo o que deveria ser feito...

    As listas intermináveis, todos os anos, de material escolar é realmente um contra-senso.

    Talvez devêssemos começar por aí e por muitas outras coisas, supérfluas.É tudo uma questão de mentalização.

    Bj

    Olinda

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  6. Olinda,

    Chega a ser insultuoso para famílias com muitos filhos e poucos rendimentos, a quantidade de coisas muito pouco necessárias que se exige. E, que se podiam perfeitamente partilhar.

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