Havia ainda, quem se deslumbrasse com o passar dos dias. Em termos de deslumbramento efectivo.
António deslumbrava-se.
Fazia-o propositadamente.
De manhã, saía cedo. A deixar escorregar paisagens acontecidas, a conta-minutos, pelo canto dos olhos. Numa viagem, para dentro de si.
Exigia um enorme esforço de olhar...sobrancelhas contraídas, pestanas levantadas e o alvo fixo.Para que no firme instante, pudesse segurar pela ponta, cada imagem. No firme instante e só pela ponta. Fosse a imagem um bocadinho de quase nada ou uma imensidão qualquer.
Absorvia-as assim, inteiras. Primeiro na pupila. Para só depois as reter com toda a força da retina, sem efeitos nem floreados.
Só depois, muito para lá do meio da noite, junto a um dos dias, portanto, vinha então o deslumbramento.
Surgia sempre em forma de palavras.
Palavras que o António não esquecia e que juntava mais palavras: as do outro, e do outro e do outro dia...
Coladas lado a lado pela ocasião. Arrumadas pelo colorido ou pela imaginação.
Deixava-as pregadas por um alfinete de alma, numa folha de papel.
Tinha uma quantidade ímpar.
Concluo então que António era um homem de palavras :))
ResponderEliminarPedro Coimbra,
ResponderEliminarExactamente!
"Pregadas por um alfinete da alma" - essas são as que duram para sempre!
ResponderEliminarJoão Afonso,
ResponderEliminarE constroem o livro das vidas.
bom.
ResponderEliminarUm colecionador de palavras :)
ResponderEliminarObrigada Daniel.
ResponderEliminarExactamente Luísa: um coleccionador de palavras. A ideia talvez siga, por aí...:)
Muito bom! Palavras presas por um alfinete de alma...não caem...
ResponderEliminarNão, não caem.
ResponderEliminarObrigada Luís