Este ano a surpresa:
-E os livros filha?
-Os livros estão aí!
-Estão aí como?
-Os livros não são meus mãe. Mas também não é preciso comprar livros nenhuns. Os livros são da escola. São de todos. Eu ponho o meu nome no fim da lista (de muitos nomes diga-se de passagem) e uso. Só não posso escrever nos livros. Mas não faz mal. Eles dão muito papel para tirar apontamentos.
- Bom mas é preciso dicionários...
- Não mãe. Os dicionários estão na sala de aula. São de todos. Também há na biblioteca.
-Sim mas e os consumíveis? Cadernos, dossiers com estrelinhas, com galinhas, com coisinhas...lápis com luzinhas...
-Ai isso? A mãe não se rale. É só uma caneta ou um lápis e já está. Tanto faz. Os dossiers são todos pretos, dos básicos e o papel é reciclado.
-Calculadora???
Aqui é sempre uma razia: uma coisa xpto, que ainda está dentro da embalagem, já se ouve berrar a plenos pulmões " eu sou o último grito da moda"...
- Pois é mãe...imagine que não deixam a minha calculadora do ano passado...só deixam aquelas muito básicas que se usava no 5º ano...
Munida de um espírito de mãe galinha em início de ano escolar, repliquei triunfante: sim mas lá para os desenhos geométricos...preciso dos números dos lápis, dos tamanhos das réguas. De vinte? De trinta? De cinquenta, de 48...dos ângulos dos transferidores, dos enquadramentos dos esquadros e dos dois em um, que não existiam no meu tempo, mas entretanto parece que foram inventados: os arintos. (ao invés de substituírem, somaram! ). Preciso disso tudo para a lista.
-Ó mãe eles querem lá saber dos números e dos comprimentos. Desde que risque e se veja...melhor ainda é se estiver certo. Não há nada para a mãe por na lista.... Além disso, em Inglaterra, estão em crise!
Pois estão...e nós... (se calhar)... também!
George
ResponderEliminarReflexos da crise sim. Mas fiquei aqui pensando se também não seria maior connsciência ambiental.
Um abraço
Lucia
Esta crise é deveras preocupante a vários niveis.É que os euros fazem falta para o essencial,mas analisando em profundidade vai-se cortar em todo o lado.Se o lado material da vida é importante,passa a deixar de o ser quando nos impedem de crescermos como seres que precisam de se alimentar espíritualmente.Penso que neste emaranhado de cortes a torto e a direito,há que não nos deixarmos enredar e não perdermos de vista o trilho que decidimos percorrer,mesmo que de vez em quando nos obriguem a desvios.
ResponderEliminarLucia,
ResponderEliminarConsciência ambiental e bom senso. Que é coisa que aqui em Portugal se perdeu.
Concha,
Esta discrição, aplica-se ao que já se passava no liceu francês há vinte anos. Tem razão quando diz que nos precisamos de alimentar espiritualmente. Mas esta questão das listas de material escolar, não reutilizavel e não partilhavel, extensissima é um absurdo. Como absurda é a troca exaustiva de manuais escolares. Um bom negócio para as editoras, sem dúvida, mas um estrangulamento absolutamente desnecessário para as famílias.
Há que imperar o bom senso, claro
Parabéns pelo texto criativo.
ResponderEliminarÉ lamentavel os momentos que nos esperam.
Cortar na riqueza intelectual é no mínimo uma tristeza maior.
Obrigada Ana.
ResponderEliminarOlá, George Sand
ResponderEliminarEste seu texto diz tudo o que deveria ser feito...
As listas intermináveis, todos os anos, de material escolar é realmente um contra-senso.
Talvez devêssemos começar por aí e por muitas outras coisas, supérfluas.É tudo uma questão de mentalização.
Bj
Olinda
Olinda,
ResponderEliminarChega a ser insultuoso para famílias com muitos filhos e poucos rendimentos, a quantidade de coisas muito pouco necessárias que se exige. E, que se podiam perfeitamente partilhar.