sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Relojoeiro de palavras em princípio de noite


Não te vejo escrever. Mas sei que passeias os olhos pelo écran, à procura da sílaba tónica. Irás depois, cuidadosamente inseri-la nos espaços correctos. Assim te assistam  todos os minutos da imaginação. 
Ponteiros feitos de dedos esguios, recortando quotidianos e reinventando paisagens.
Não consentes que as vírgulas fujam, de susto ou de espanto.
Que os pontos finalizem o que ainda há-de ser escrito.
Que as interjeições se acomodem.
Que os travessões se atravessem Sequer na serenidade, onde não é suposto estar mais do que o mostrador deserto. Quando muito, ponteado de uma ou outra estrela. Vírgulas indefinidas. Ainda sem rumo, na  viagem de um texto.
Aos poucos, a escrita tomará forma  de gente. Ou de rodas dentadas de palavras, enrodilhadas em silêncios, a fazer-te correr, de página em página. De capítulo em capítulo. Numa frenética revisão: do espaço e da memória.
Um dia dirão: aqui esteve, um relojoeiro de palavras em princípio de noite...


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