segunda-feira, 25 de abril de 2011

Carris


No fundo da gare havia um banco. Trôpego e sem uma trave. A trave do meio do banco tinha desaparecido. Não estava lá.
Sentei-me na ponta da perda da trave, na junção incómoda das outras traves e fiquei ali.
Respirei fundo.
A neblina envolvia-me num abraço cerrado.
Por detrás o som de nada e pela frente um vagão inerte, atrelado a outro vagão inerte, a outro vagão inerte, a outro vagão…não consegui descobrir quantos, se quedavam assim, sem murmúrio e sem escolha.
Limitei-me a contar os carris, que são sempre dois e transportam o olhar para o horizonte, mais ou menos dilatado. Mesmo assim, reconheço, que por vezes me desconcentrei desse cenário sem rumo, para adivinhar nos rectângulos metálicos das janelas, desfeitos do quadrado original por pedaços retorcidos nos cantos, rostos pasmados que nunca devem te existido. Ou a terem existido, existiram unicamente vislumbrados.



(fotografia de Mário Castello)

2 comentários:

  1. Posso repetir o comentário que deixei no «post» anterior? :-)))

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  2. Obrigada Luísa. Que bom estímulo para escrever os seus comentários

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