Caminhava apressada, com um saco pardo na mão. Conhecia de cor todos os recantos de velharias da cidade, todas as feiras da região...e procurava-os meticulosamente. Toda a manhã se afadigava num entra e sai, discreto mas eficaz.
Ao entardecer, quando nada nem ninguém, poderia reflectir, regressava a casa. Subia a quatro e quatro, os degraus que a conduziam à única assoalhada que ainda poderia abrigar uma réstia de luz, e mirava-se. Não...não seria ainda desta vez. Não pelo cabelo desalinhado, pelo rosto cansado, pelos ombros que teimavam em nunca aparecer, pela memória mostrada de esguelha...
Chamavam-lhe a mulher dos espelhos.
Nunca ninguém soube o que procurava, nos muitos e muitos espelhos que armazenava. Só se sabia uma coisa: comparava incessantemente a nitidez...
Coisas de cada um, que não têm de obedecer à lógica que os outros teimam em procurar.
ResponderEliminarPelo menos à lógica da imaginação...
ResponderEliminarA par da escrita, o espelho é das poucas invenções poéticas do homem.
ResponderEliminar(Cada dia que passa (o George) escreve cada vez melhor.
abraço
Obrigada João. É mais uma tentativa de escrevinhar, com tanta gente por aí a escrever tão bem.
ResponderEliminar