quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Numa roite de bússolas e sextantes de luar




 Era na noite que gostava de navegar. Com bússolas de estrelas e sextantes  de luar.
Nada à vista, a não ser a respiração vagarosa da luz, prometida pela cadência desconcertante da lua. Ora em passos longos de volta redonda. Ora em minudências de ritmos apertados.
Ondas vagamente iluminadas, encerravam sempre viagens prolongadas. E o destino era tão incerto, quanto os caminhos de si.
Saía sempre tarde. Sem rota traçada, numa carta de mar aberto.

Hoje a percepção de uma onda de mágoa. Amanhã a lucidez, da alegria esfuziante, de um dia de abraços. Retido por todas as gotas da memória, que se pudessem dali abarcar.
Não havia nunca redes lançadas ao mar.
Nada para retirar, à força, do tempo.
Só uma estrada plena e, sem rumo preciso, no alcance de toda uma noite.


Amanhã, os caminhos seriam outros. Poderiam leva-lo a um molhes de gargalhadas, ou a  um abalroamento manso de imagens, mais ou menos desfocadas.
Viajaria sempre. E cada vez mais.  Para dentro, cada vez mais para dentro. Num horizonte pleno, de um suave marulhar.
E de todas as noites que partia, vestia-se de espanto. Por nunca, mas nunca, naufragar.

 

21 comentários:

  1. Tão bonita esta viagem!
    Atribulada? Talvez mas as marés provocam a turbulência, porém o som das águas também trazem a serenidade.
    Bj.

    ResponderEliminar
  2. Ana,

    Viagens em marés de nós...com toda a turbulência e serenidade próprias, da vida.

    Puma,

    Obrigada :)

    ResponderEliminar
  3. "Viajar, para dentro, cada vez mais para dentro". Essa talvez seja a melhor viagem. Àquela que me dará lições de mergulho para que eu nunca naufrague em mares nunca antes visitados. Adorei o texto!

    PS: Estive ausente, por isso tenho vindo tão pouco.Bjs

    ResponderEliminar
  4. Julieta,

    É pelo menos uma viagem essencial, necessária e qu se tem que ir fazendo a vida toda.
    bjs e obrigada

    ResponderEliminar
  5. A imensa força introspectiva que compõe os teus textos, deixam-me invariávelmente mudo, George.
    Esta viágem conduz-nos, leitores, a lugares recônditos de nós. A lugares que sabemos existir, mas que raramente reunimos ânimo para visitar, escudando-nos quase sempre na agitação das nossas vidas.
    É bom, que percorramos a miude os nossos caminhos íntimos e por vezes solitários. Talvez seja ficcionando, a única forma concreta, que nos permite perceber quem somos e para onde queremos ir.
    ;)

    ResponderEliminar
  6. Gosto da água, gosto do mar principalmente bem turbulento e gosto da vida.Que sentido teria viver se a surpresa sobre o que nos espera fosse antecipadamente desvendada?É a alternância do mar chão e do mar revolto,que fazem com que a vida seja uma viagem/aventura com aqueles ingredientes que nos fazem apreciar os bons momentos, quando em maré alta e nos fazem lutar com persistência, quando queremos voltar a subir a onda.Galgar a onda nem sempre é fácil,mas chegados lá acima a perspectiva é excelente.
    Beijinho grande

    ResponderEliminar
  7. Bartolomeu,

    Por isso a noite. O lugar do silêncio. Dos ritmos da água.
    Somos feitos de água. essencialmente. E de espanto, quando trilhamos esses lugares recônditos.
    O medo vem a seguir...na imagem que não naufraga, mas que balouça vertiginosamente, pelo rumo nunca traçado, da viagem.
    Ainda bem que gosto
    Obrigada


    Concha,

    Viver em preia-mar...e no suspense da vida. Uma bela imagem.
    As ondas serão sempre sete e, na mesma cadência...ou não :)
    É isso que nos dá o mar...em termos de vida, também.
    Bj e obrigada

    ResponderEliminar
  8. A ideia de viagem é uma constante em mim.
    Idealizo, planeio, traço... e nem sempre realizo.
    Mas a ideia permanece: umas amadurecidas, outras recentíssimas!
    Viajar é sempre um desígnio, que não se limita à viagem...

    ResponderEliminar
  9. Fazer da viagem o fim, de cada porto de chegada o porto de partida.

    ResponderEliminar
  10. mfc,

    A ideia de viagem no fundo é a ideia de vida. Estamos sempre em viagem. As que se fazem, as que se gostariam de fazer...
    Obrigada

    João Raposo,
    Sempre e em casa minuto. Portos abertos a estuários. Largos, de preferência.
    Obrigada

    ResponderEliminar
  11. Viajar cada vez mais para dentro de nós...só assim vamos fazendo "malas" carregadas de Ser... de Sentir... de Verdade... só assim se caminha verdadeiramente...

    Belas e sábias estas suas palavras!

    Agradeço todas as palavras gentis lá no Clarear:) volte sempre...

    um beijinho

    ResponderEliminar
  12. Bela viagem que não desdenharia fazer.

    ResponderEliminar
  13. Obrigada Clarice.
    Ainda bem que gostou da viagem. Eu passo sempre que posso, pelo Clarear.

    CBO,

    Pode sempre começar. O barco parte todas as noites. O leme é de cada um. O interior,também.
    Obrigada

    ResponderEliminar
  14. Querida amiga, eu ate começo evitar vir aqui para nao me emocionar. Desculpe la má i iPad nao tem acentos.
    Bj
    João Amorim

    ResponderEliminar
  15. Nada mais justo do que adicioná-lo a parte "alento" do noss blog. Ótimo texto.

    Lembrou-me: http://entre-primos.blogspot.com/2011/12/entrega.html

    ResponderEliminar
  16. João Amorim,
    Gosto muito que goste e se o consigo emocionar melhor.
    Muitas saudades o Porto e dos grandes amigos do Porto. Temos que combinar...
    Bj e saudades para todos aí em casa.

    Primos,
    Ainda bem que gostou.
    grata pelo adicionamento ao V/ Bogue que considero, esse sim, de primeiríssima água.

    ResponderEliminar
  17. Há que viajar sempre, e, por estranho que pareça, a noite é boa guia...
    Gostei de conhecer esta rua, chez George Sand... :)

    ResponderEliminar
  18. Isa,
    A noite e boa para escutar, sobretudo.
    Seja bem vinda. Vou conhecer os seus espaços que também ainda não conheço.

    ResponderEliminar
  19. Obrigada pela visita! É sempre bem vinda ;)

    ResponderEliminar