De repente, sem aviso, os olhos vermelhos e lacrimejantes de uma banal conjuntivite, deram lugar ao pânico...30% apenas de visão...desfocada.
As cores baralharam-se. As imagens esfumaram-se, a vida perdeu todo o alcance e ganhou um absoluto sentido.
Tarefas normais do dia a dia tornaram-se impossíveis. A espera desesperante: restava o pensamento, a audição, o tacto, os intermináveis segundos transformados em minutos e a ausência de quase tudo.
E um dia, como se nada fosse, as coisas começaram a retomar a sua normalidade.
Mas se não fosse assim? Se não fosse assim, a minha casa estaria transforamda num labirínto. A rua, numa selva. E a vida, num zero quase absoluto que me faria ter que recomeçar. Aí sim, sem pontos de referência à partida e na esperança de um qualquer abrigo, pelo menos semelhante a algo que me parecesse familiar.
Não sei como é viver toda a vida sem ver. Mas passei pela experiência de pensar, como será recomeçar um dia, a vida sem ver. A ter que lembrar o mar de uma única cor. O verde transformado em aroma e abrisa feita caleidoscópio...
A minha homenagem a todos os que um dia viram e, noutro dia, tiveram que nascer de novo.
É quase uma verdade de La Palisse mas o facto é que só quando algo nos falta, lhe damos o verdadeiro valor. Nem imagino como seria viver uma situação como a descrita neste texto.
ResponderEliminarConcordo plenamente...deve ser das coisas horríveis da vida ver e deixar de ver. Trabalhei alguns anos com secretária clínica num serviço de oftalmologia e senti bem o sofrimento daqueles que lá íam...ainda bem que já passou consigo! Bjs.
ResponderEliminarFelizmente que nao teve que nascer de novo, George Sand. Estou contente por ter regressado e por poder ver, para alem de contornos, as cores definidas e focadas. E uma alegria, sim, porque o seu belo texto e tocante! :) Desculpe mas nao tenho acentos por causa de um problema no teclado.
ResponderEliminarSim, Conheci o bookcrossing ha algum tempo, li nos meios de comunicaçao, fiquei surpreendida com a adesao da biblioteca onde vou habitualmente.
Nunca pratiquei. Nao pude deixar um livro porque nao levava nenhum mas, quando colocar o que trouxe, vou levar um comigo!
Obrigada pela visita.
Luísa: não é agradével acredite. Mas faz-nos repensar um bocadinho a vida.
ResponderEliminarIsabel:vê-se muito sofrimento e em muitos sitios. Na nossa vida do dia a dia quese esquecemos isso...
Ana: ainda não passou completamente. Mas 90% de visão já me permite fazer a minha vida normal. O resto vai com o tempo. O Bookcrossing é uma ideia excelente que já vi e já partilhei em vários lugares. Em Portugal, estranhamente, só vi uma vez: no Porto Santo.
Obrigada eu pelos vossos comentários e as vossas visitas.
Curiosamente,hoje tive conhecimento de um amigo que pela segunda vez vai ter de ser operado a uma vista e tendo em conta a profissão que exerce,tudo se torna muito difícil.
ResponderEliminarGostei do seu blog
Concha
Obrigada Concha. Volte sempre. Espero que corra tudo bem com o seu amigo. A visão é um bem precioso. Quando passamos por situações destas é que damos o devido valor
ResponderEliminarcaro George
ResponderEliminarEspero que tudo esteja bem. Até apanhei um susto ao ler o seu desabafo...
João
Origada João. Ainda não está tudo bem. Estas coisas demoram. Mas, esta´nobom caminho. Obrigada pelo cuidado. Bjs a todos aí em casa
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