sexta-feira, 15 de junho de 2012

Carta à minha memória V - Desencontros



Escrevi-te ontem, para que pudesses ler antes, o que eu sei , que jamais acontecerá.
Por isso não te enviei saudades. Nem te pedi resposta.
Não vai ser preciso mais nenhum tempo. Não quero que me escrevas para mais nenhum tempo. Pelo menos enquanto lugar de acontecimentos e histórias.
É difícil dar com a caixa de correio, para onde envias as memórias…assim, largadas.
Procuro hoje e não encontro.
Tento amanhã e não alcanço.
E no fim do dia, o ontem já se fez presente e o endereço errado...para onde te remetem a minha vida, assim..sem mais nem menos.
Não gosto disso. Da minha vida, remetida num embrulho já meio desfeito.
Eu sei que mais tarde ou mais cedo os embrulhos se desfazem. Mas que não seja por caminhos.
Fica complicado reencontrar o que quer que me digas e, mais ainda o que quer que me queiras dizer, depois disso. Ou, antes disso.
Deixa, que seja eu a contar-te, de um qualquer  recanto.Sem pressas nem momentos.
Vou-te dizer: busquei a lua, sabes. Busquei-a no lugar exacto em que a lua  surge. Sem imposições de relógios.
depois procurei o sol. Nesse acontecimento único, em que o sol se despe da noite.
Reparei que o pijama do sol não tinha estrelas. Nenhuma estrela. Só uma ou outra fugazmente as vi, a escorregar pela borda do lençol…

Saudades de ti, minha memória,  plantada, nessa lonjura…

Este texto foi escrito originalmente, para o blogue Cartas aos molhos

16 comentários:

  1. São tantos os desencontros e a falta de estrelas...mas por vezes só o avistar uma, mesmo que fugazmente, já faz valer a pena...

    Gostei muito!
    Beijos
    Sónia

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    1. Desencontramo-nos, sobretudo, connosco. Haja estrelas no caminho.
      Bj e obrigada

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    2. Também acho que os maiores desencontros são connosco mesmos....
      Beijos

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  2. Mesmo quando nos desencontramos, as estrêlas estão lá à espera que as possamos ver.A alegria de ver nem que seja só uma já é razão suficiente para acreditarmos que haverá muitas mais e então podermos deixar-nos iluminar por toda a sua luz para enfrentarmos sem reservas as suas hipotéticas ausências.

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    1. As ausências são importares. As esperas e o tempo correcto, são importantes.
      É bom que a vida se deixe acontecer.
      Obrigada Concha.
      Bj

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  3. reparei que o pijama do sol não tinha estrelas.......linco Tia

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  4. Há sempre saudades que nos roem (ou que nos moem...?!).
    Podemos dizer o que quisermos, podemos tentar enganarmo-nos... mas volta e meia elas aí estão a baterem-nos à portinha dizendo "presente... estou aqui!"

    Beijos,

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    1. As memórias podem não ser saudades. Podem ser só aprendizagens...
      Bj

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  5. George Sand,
    Utilizou metáforas muito bonitas.
    Parabéns!

    Por vezes, é melhor escrever mesmo que a carta não seja enviada.
    Beijinho.

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    1. As melhores cartas, nunca são enviadas não é Ana? São aquelas que nem coragem temos para enviar...
      Obrigada
      Beijinho

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  6. papagaio de papel. em mãos de criança. ao sabor do vento...

    ... carta sem destino.
    que no entanto baila. como estrela vagabunda.

    beijo

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    1. Coisas que se dizem, que se recordam e que ficam por dizer..
      Bj e obrigada heretico

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